A JOGAR FORA - Uma opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - Foi com base em exibições sofríveis e resultados q.b., sem vontade ou capacidade para assumir os jogos, sem uma vitória convincente, sem um regalo para os nossos olhos, que Fernando Santos venceu o Euro 2016.
Mas foi também assim que foi atirado borda fora, sem honra nem glória, do Mundial 2018 e do Euro 2020 - e isto podia ter servido de lição, mas não: quinta-feira, no jogo de estreia, para não fugir à regra, foi melhor o resultado do que a exibição. E como mete dó ver um conjunto de jogadores com a notável categoria dos nossos, que jogam ao mais alto nível nos melhores clubes europeus, pôr-se tão a jeito contra o Gana, a seleção com pior ranking FIFA presente no Catar. Sobejam formas, melhores e mais excitantes, de chegar às vitórias - vejam lá, bem a propósito, como o Brasil despachou a Sérvia do nosso descontentamento.
2 - Nem o mais obtuso dos espetadores deixará de concordar que foi Bruno Fernandes, e não Cristiano Ronaldo, o "homem do jogo" de quinta-feira. Mas o prémio atribuído no final do Portugal-Gana foi, como que por obrigação, direitinho para aquele que se prepara para ser histericamente aclamado quando, por fim, ao quinto Mundial, ultrapassar os golos que Eusébio obteve em apenas um (marcou 9 em 6 jogos!). Kevin de Bruyne, simples e humilde como os craques deveriam todos ser, reconheceu o óbvio: "Nem sei por que razão ganhei o prémio de homem do jogo, se calhar foi só pelo meu nome." Toda a mentira serve para a FIFA garantir o "showbiz" e os muitos dólares que lhe estão associados.
3 - Desculpem-me todos os patriotas, e também os patrioteiros, mas a notícia da semana foi o prolongamento do contrato que liga o melhor jogador nacional da atualidade ao melhor clube do passado, do presente e do futuro do futebol português - estavam, sem dúvida, fadados para se entenderem: o Rafa está feliz no Benfica e o Benfica está feliz com o Rafa.
4 - Um dos maiores inimigos do regular funcionamento do nosso futebol - o Conselho de Disciplina da FPF - arquivou o processo relativo à criança que foi obrigada a despir o "Manto Sagrado" para poder assistir ao Famalicão-Benfica. Alegaram que "as diligências realizadas não permitiram colher indícios de ilícito disciplinar" - melhor incentivo para que vergonhosas discriminações do mesmo tipo se repitam no futuro não podiam os senhores doutores juízes ter arranjado. Mais não tinham feito em relação ao FC Porto-Sporting, o jogo da vergonha da época passada, disputado no Dragão: tudo arquivado, tudo inocentado, não se passou nada, siga a dança!