PASSE DE LETRA - Opinião de Miguel Pedro
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1 - Confesso, caro leitor, que me deixo emocionar com os finais felizes. Embarga-se-me a voz e, muitas vezes, as lágrimas acorrem-me aos olhos. Mas nem todos os finais felizes me provocam tal estado de espírito: tem que haver, na narrativa, ambiente épico, angústia, algum drama, companheirismo e amizade, espírito de comunidade, e heroísmo (à maneira grega).
Por isso me emocionei no final do jogo da passada terça-feira, contra os alemães do Union Berlim: todas as caraterísticas da narrativa estiveram lá e, por isso, aquele final feliz trouxe-me as lágrimas aos olhos. Houve ambiente épico, num estádio que é mítico, com adeptos alemães que merecem sempre vencer os jogos, pois são incansáveis no apoio da sua equipa (mesmo depois de perder o jogo) e com meio milhar de adeptos bracarenses que também nunca se calaram e acabaram por festejar no final; houve drama e angústia, ao sofrermos dois golos que nos fizeram ter a consciência das dificuldades defensivas da equipa; houve companheirismo e amizade, que têm sido, aliás, notórios em todos os jogos desta época e que vêm ao de cima nestes momentos, com uma entreajuda permanente, procurando, cada jogador, mesmo os que estão no banco, apoiar e superar cada erro que o colega possa cometer; um espírito de comunidade que iluminou todo o jogo, sentindo-se - mesmo quando estávamos a perder - que existia uma identidade na equipa, que ia para além da soma de todas as partes que a constituem, algo que está somente reservado às grandes equipas; e um heroísmo próprio de um guerreiro das grandes narrativas gregas, que luta contra forças maiores do que ele próprio e que se supera para vencer as dificuldades.
O golo de Castro surgiu, assim, como o culminar catártico de toda esta narrativa. E quem melhor do que Castro para o marcar? Um jogador incansável, guerreiro e companheiro, amigo e lutador, daqueles jogadores a quem tudo se pode pedir e que pode jogar em qualquer lugar. Ser, hoje em dia, adepto do SC Braga é isto mesmo: é ter o privilégio de finais felizes.
2 - Mas as grandes euforias dão, por vezes, grandes ressacas. E foi assim que entrámos no jogo de ontem: profundamente ressacados. E, quando demos por ela, estávamos a perder e com um grande autocarro estacionado em frente à nossa garagem. Só depois de muitos guronsans, buscopans, aspirinas e kompensans, lá tivemos que chamar o mecânico, a polícia municipal e o reboque e, no final (feliz), conseguimos desmontar o autocarro. Haja coração para aguentar isto tudo....