HÁ BOLA EM MARTE - Um artigo de opinião de Gil Nunes.
Corpo do artigo
Compromisso: porque (in)tenta falar em português muito embora em castelhano também nos entendemos.
Progressão: mais Inácio menos André Silva, o grupo de Portugal é mais ou menos aquele que participou no Mundial, o que significa que o atual selecionador quer aproveitar o que foi deixado pelo antecessor; e adaptação: vencer o Liechtenstein era natural mas o que interessa mesmo é conhecermo-nos melhor. Porque curtos dias de estágio não têm cem horas.
E o que podia fazer Martínez em meia dúzia de dias? Pouco ou quase nada. Aliás, se alinhasse pela revolução estaria a cometer um erro crasso. Até porque Fernandes Santos estava a puxar a equipa para a frente, apenas com um pivô defensivo e ainda no rescaldo do trauma sérvio. Mas há coisas que se podem alterar numa seleção com os melhores jogadores do mundo: linha de três defesas, jogadores mais próximos da baliza adversária e uma constatação: talento para jogar em posse e capacidade física para atuar em transição. Martínez herdou a seleção com uma constipação ligeira e nada como uma boa noite de descanso para resolver o problema.
8 Gonçalo Inácio: destaque previsível
Martínez referiu-o várias vezes na conferência de Imprensa e não o fez de forma ingénua: a primeira missão do selecionador é estabilizar a linha de três defesas, e fazê-lo através de um central esquerdino, com capacidade para subir no terreno e causar desequilíbrios no processo de construção ofensiva, e ainda com capacidade para jogar a partir do lado direito desse eixo central. Ora, dado um contexto de Seleção que enfrenta por múltiplas vezes defesas com um bloco muito baixo, a presença de Inácio no onze dá à equipa a peça que faltava para, a partir de trás, levá-la para zonas de maior risco. Foi dos que mais lucraram com a entrada em cena de Martínez. Portugal aproveita.
9 João Cancelo: em todas
Num futebol de Martínez que prima pelas constantes variações de flanco e que coloca os laterais em situações de duelo individual, o papel de Cancelo na Seleção promete multiplicar-se. Frente ao Liechtenstein esteve de volta o velho Cancelo, que apagou aquele algo soturno que se apresentou no Catar. Inaugurou o marcador ao aparecer na zona de tiro e desembrulhou os dois seguintes através de movimentações rápidas que destruíram o bloco baixo adversário. Louvável o seu elogio a Fernando Santos, sobretudo num período pós-Mundial em que pareceu perder terreno para Dalot. De facto, João Cancelo é justo e não é ingrato.
7 Evanilson: o regresso
Sérgio Conceição não é resignado nem apático e agita as águas porque quer mais e melhor. Mal estaria o FC Porto se a sua atitude fosse passiva. Um dos jogadores que não quererá perder é, por certo, Evanilson, cujo regresso coincidiu com um período de jejum ofensivo do FC Porto. Se bem que aquele golo no final da partida frente ao Braga não se falhe, o regresso do brasileiro conferiu aos dragões maior poder de choque, apetência para reação à perda e refrescantes soluções do ponto de vista ofensivo. Sem brilhar mas já a um nível competente, Braga e Inter serviram de alavanca a um elemento determinante nas contas do FC Porto.
Tranquilo Ronaldo
Dois golos, uma boa exibição e o regresso a um cenário de tranquilidade que a todos beneficia. Está de regresso o CR7 de antigamente, pelo menos na postura. É certo que se podia ter referido a Fernando Santos de outra forma mas, pelo menos, teve o discernimento de não o fazer de forma polémica/agressiva. Democracia.