Rui Costa vai ser, por mérito próprio e imaculado benfiquismo, presidente de corpo inteiro
A JOGAR FORA - Opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - Sem surpresas, sem percalços de maior, sem adversário de monta também, Rui Costa venceu as eleições de ontem. Vai ser agora, por mérito próprio, e felizmente também por imaculado benfiquismo, presidente de corpo inteiro - e com a legitimidade reforçada por uma excecional votação.
"Um pouco de sorte, um mínimo de sorte, não faz mal a ninguém. Sem esse pouco, sem esse mínimo, não se consegue atravessar uma rua", explicou, numa das suas deliciosas crónicas, Nelson Rodrigues.
É o que desejo a Rui Costa: que à competência some a audácia que puxa a sorte - se é necessária para atravessar uma rua, mais será para guindar o Benfica ao lugar a que a sua grandeza obriga.
2 - Uma palavra para Francisco Benítez, que não se escudou em argumentos de caráter pessoal para se baldar a um destino tão certinho quanto o próximo jogo da equipa ser para a Taça com o Trofense. Errou na estratégia, insistiu em questões políticas irrelevantes para a maioria dos benfiquistas, contudo prestou a todos nós um preciosíssimo serviço: não deixou Rui Costa sozinho no palco eleitoral, sem o brilho das luzes do contraditório, sem o imprescindível debate de ideias, assim evitando que uma indesejada coroação tomasse o lugar de uma eleição.
3 - Adeptos do Newcastle, iguais aos que foram endeusados por terem feito abortar a Superliga dos ricos, festejaram efusivamente a compra do clube por um fundo saudita. Percebe-se porquê: vão passar por tempos desportivamente melhorados num futuro que se adivinha próximo. Não se percebe é que o tema das parcerias estratégicas não tenha ocupado um espaço nobre na campanha eleitoral do Benfica - não ocupou, inclusive, espaço algum.
Trata-se, agora, de uma tarefa prioritária para Rui Costa, mais a mais quando o Sporting tem há muito fiéis parceiros estratégicos nos bancos que lhe fazem inadmissíveis perdões de dívida (diz-se que vem mais um a caminho!) e o Benfica precisa de aumentar a sua competitividade externa.
4 - Em seu devido tempo defendi que Rúben Dias, independentemente da idade, independentemente do número de jogos na primeira equipa, deveria ser o capitão do Benfica. Não foi preciso muito tempo para que Guardiola, sem o saber, me viesse dar a razão de que não preciso: no arranque desta época, fez transitar a braçadeira de capitão do enorme Kevin de Bruyne para o jovem central português.
Venturosamente, chegou à Luz (no negócio entre o City e o Benfica) outro jogador com dimensão de capitão: Otamendi. Que seja sempre dele a braçadeira. E que a gestão de Rui Costa seja capaz de fazer brotar do Benfica Campus mais jogadores com o perfil de um Rúben Dias.
5 - Jamais esquecerei o minuto 70 do jogo de 25 de outubro de 2015 - o Benfica perdia 0-3 com o Sporting na Luz quando, saído das profundezas do nosso desgosto, o "Eu Amo o Benfica" foi entoado pelos No Name Boys. De imediato o cântico alastrou (por longos e arrepiantes minutos) a todo o estádio, assim se iniciando a caminhada rumo a um dos mais saborosos títulos da minha existência de benfiquista.
Que o exemplar comportamento dos adeptos no final da derrota com o Portimonense seja o 25 de outubro da época corrente. Enquanto adorado ex-jogador, ninguém melhor que Rui Costa para federar continuadamente equipa e adeptos. Carrega Benfica!