Rui Costa está (para já) aprovado, e com nota alta, na espinhosa tarefa de substituir Vieira
A JOGAR FORA - Opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - De 7 de julho a 31 de agosto correram 55 dias que tinham tudo para se transformarem num depressivo pesadelo para os benfiquistas.
Todavia, com surpreendente tranquilidade, competência e discrição na ação, o clube concluiu o primeiro "microciclo" da temporada 2020/21 apurado para a fase de grupos da Champions, isolado na liderança da Liga e com acerto na gestão desta janela de mercado - dela saindo com um plantel enriquecido e um saldo positivo (34,5 M€) entre compras e vendas. (E tinha de entrada fechado, com inegável sucesso, o empréstimo obrigacionista.)
É caso para concluir, sem precisar de ser ousado na avaliação, que Rui Costa está (para já) aprovado, e com nota alta, na espinhosa tarefa de substituir Luís Filipe Vieira.
2 - Pese embora o reconhecimento de que ninguém, em iguais circunstâncias, faz diferente, discordo da marcação de eleições para data tão próxima. Trata-se, para mais, de um erro de avaliação: quanto mais capazes forem os adversários, mais legitimado e fortalecido sai o vencedor; ou, dito de outra forma, é preferível uma vitória de 55% contra um adversário à altura do que uma goleada de 95% sobre um paraquedista à procura de não mais do que cinco minutos de fama mediática.
De caminho, nego também razão aos oposicionistas - andam há um tempão a perseguir o fim do ciclo "vieirista", a exigir profundas mudanças no clube, a reclamar eleições, e, a seu tempo avisados de que o ato eleitoral teria lugar até ao final do ano, queixam-se agora de falta de tempo para apresentar listas e projetos para o clube?
3 - Desejo que a campanha eleitoral que aí vem não seja uma oportunidade perdida para debater o modelo de futuras parcerias estratégicas. O regresso do clube ao mais alto nível europeu não vai lá com slogans do tipo "devolver o Benfica à Europa" ou manifestações de desejo como "ser campeão europeu com a formação". Não é mais possível continuarmos a crescer organicamente - o país tem a dimensão que tem -, pelo que não vejo como dar o salto sem o fazer através de acordos com investidores externos.
Recordo-me que havia quem se opusesse à contratação de estrangeiros enquanto Cubillas brilhava no FC Porto e Yazalde faturava golos atrás de golos no Sporting, quem se batesse pela remodelação do velho estádio com as fundações e as vigas de betão já à vista em Alvalade e no Dragão e quem considerasse suficientes uns terrenos em Oeiras, onde construir cinco ou seis relvados e uns tantos equipamentos de apoio, em vez de uma academia no Seixal. Estaríamos, ainda hoje, a marcar passo na História - e irremediavelmente ultrapassados pelos nossos principais concorrentes.
4 - Quero acreditar que o fecho do mercado deste verão colocou um ponto final nas asneiras que por ignorância (uns) ou manifesta má-fé (a maioria) são desde há um ano ditas a propósito do suposto investimento de 100 M€ que o Benfica fez para a época 2020/21 - valorizam eles, em exclusivo, o montante das compras, ao mesmo tempo que ignoram, manhosamente, o das vendas.
Como se, entre outras, a saída de Rúben Dias - "só" o melhor jogador da Premier League - não tivesse significado um enorme desinvestimento na equipa (o saldo final entre compras e vendas, único indicador que honestamente pode, e deve, ser considerado, cifrou-se nuns, afinal modestos, 22,5 M€). No quadro atual, não sei, não consigo sequer adivinhar, a que é que todos aqueles "bota-abaixistas" se vão agarrar.