PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Um artigo de opinião de José João Torrinha.
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Por mais que se seja lembrado que o futebol é apenas um jogo, que o desporto é suposto ser algo que eleva a nossa condição de seres humanos para patamares onde deveriam imperar valores como o respeito pelo outro, sucedem-se casos que são tudo menos isso.
O futebol, infelizmente, funciona demasiadas vezes como meio de escape para todo o tipo de frustrações, pondo a nu uma falta de civismo que não se toleraria em nenhuma outra área da nossa vida em sociedade. Os insultos proferidos a Rochinha, que se têm repetido de uma época para outra e que envolvem o desaparecimento da sua mãe, são um péssimo exemplo disso mesmo e não é preciso que tenhamos perdido um ente querido de tamanha proximidade para percebermos o seu baixíssimo e vergonhoso nível de desrespeito.
Infelizmente, todos sabemos que este tipo de situações lamentáveis não começaram com Rochinha. Ao longo de anos e anos temos assistido a acontecimentos à volta do fenómeno da bola que vão desde o uso de material proibido e danificação de património, a insultos a tudo e a todos, até à violência física que já chegou a ter consequências verdadeiramente trágicas, como a morte de adeptos.
A violência, sob todas as suas formas, no desporto e no futebol em particular, é um veneno que não tem clubes, que varre o país de norte a sul e que urge erradicar de uma vez por todas. O que fazer então? À cabeça, o óbvio: as punições devem ser rápidas, eficazes e exemplares. Mas isso nunca será o suficiente. Nesta luta há um papel para clubes, para a imprensa e para os próprios adeptos. Infelizmente, em tudo isto tem havido muita falta de comparência. Os clubes tendem a ser extremamente vocais quando os seus são as vítimas, mas a viver num silêncio de chumbo quando esses são quem se porta mal.A imprensa adora escolher alvos de estimação, como tem sido o meu Vitória e a passar por outros casos como este de Rochinha como mais um dia no escritório. E os próprios adeptos que tantas vezes não entendem que defender os nossos clubes é sermos os primeiros a condenar a meia dúzia de "nossos" que fazem coisas destas. Se um dia tudo isto mudar, pode ser que o veneno seja erradicado. Até lá...