Resultado tangencial do Benfica na Taça serviu para pôr água na fervura
A JOGAR FORA - Um artigo de Jaime Cancella de Abreu.
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1 Quem não sabia que defrontar o mesmo adversário, no mesmo estádio, dias depois de ali o ter goleado, era garantia de dificuldades acrescidas?
Não obstante, houve benfiquistas que se mostraram insatisfeitos com a exibição da equipa, e eu bem os compreendo: andamos mal habituados.
Eu prefiro relevar o facto de termos passado mais uma eliminatória, jogada na casa de uma das boas equipas da primeira Liga, e de o termos feito com todo o mérito e justiça. Vou até mais longe: este resultado tangencial - as equipas goleadoras também ganham jogos por um... - veio na altura certa para colocar água na fervura que as goleadas em série inevitavelmente provocam. Que mais logo, faça chuva ou faça sol, com goleada ou sem ela, possamos fechar este ciclo infernal com mais três pontos e a confirmação do primeiro lugar destacado na classificação!
2 Se Roger Schmidt não tivesse chamado o pornográfico número de 38 jogadores para o estágio de pré-época, muito provavelmente António Silva não seria agora o central em melhor forma para jogar ao lado do insubstituível Rúben Dias na Seleção. Foi, como hoje é fácil de constatar, uma medida de gestão desportiva acertada - mas foi muito mais do que isso: foi um exemplar ato de liderança, mostrando que todos partiam do zero e teriam as mesmas oportunidades, que queria conhecê-los para além das suas qualidades técnico-táticas, que quem fosse dispensado não o seria por "decreto" e que apenas o mérito iria determinar quem faria parte do grupo. Ali se iniciou a revolução de mentalidades de que o Benfica tanto necessitava.
3 Não gosto das hipocrisias nem dos insuportáveis lugares comuns próprios do nosso futebol. De modo que aí vai: nunca até hoje me senti tão indiferente em vésperas de um Mundial - e já levo comigo, quase sempre através das transmissões televisivas, catorze. (Estreei-me com o melhor de todos para as nossas cores, o de 1966.) Este Campeonato do Mundo não é do futebol, é dos interesses obscuros que conduziram às mais absurdas das decisões: país organizador, época do ano em que tem lugar, aperto do calendário, horários dos jogos, tudo! E esta Seleção, a que um jogador vira as costas e de imediato recebe o apoio integral, solidário e comovido dos adeptos do seu clube, não é de todo o Portugal: é da FPF e dos interesses que giram à sua volta. O selecionador, a viver na mesma fezada de 2016, imagino que de terço e calculadora na mão, acha que "vamos ser muito fortes no Mundial". Cá estarei para dar a mão à palmatória.