PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - O futebol é, sobretudo quando chega aos grandes jogos, competitivo por natureza, mas, na sua preparação, não só confronta cada equipa com o adversário, como também cada treinador com os seus jogadores (e eles entre si) na decisão (e luta) pela titularidade. Conceição e Amorim não têm muitos problemas nessa definição, mas as poucas que existem são o suficiente para poder mudar muita coisa.
O desejo de voltar a ter um jogador com o traço de estilo de velocidade no ataque à profundidade, acredito que será um tentação à qual Conceição estará a tentar lidar (ou mesmo resistir) para não lançar Galeno de início. É fácil imaginá-lo a fazer essas jogadas individuais diferenciadoras quando o espaço para elas se abrir, mas este jogo não é para ter espaços abertos. É para os ter fechados. E, nessa equação sobre metros quadrados disponíveis, é mais importante a noção coletiva do jogar do que a individual do correr.
Por isso, o jogo mais associativo de Pepê, ligado à noção do criar desequilíbrios, pacientemente, será mais indicado ao olhar, de início, o jogo como objeto de estudo. E, depois, no seu decorrer, haverá sempre tempo (ou oportunidade) para lançar o tal outro conceito da velocidade profunda.
Este FC Porto está diferente na forma como tem o seu núcleo duro tático em jogadores de posse e passe: Uribe, Vitinha, Fábio Vieira, Otávio. Um quarteto de estilo que compete com uma individualidade de outro estilo que, a entrar, não entenda esse jogo deles e o comprometa ao fazer individualmente (até por ainda existir natural falta de entrosamento) coisas fora da lógica de ligação coletiva.
2 - Para Amorim, sem Pote, é tentador imaginar a entrada de um jogador que faz no um-para-um o que mais ninguém ousa fazer. Edwards é um exemplar de futebol raro. Parece um miúdo introvertido, daqueles que gosta de estar no seu canto e observar. Joga como um brasileiro mas age como um inglês. O que vale mais estilisticamente? Eu acho que o traço anticultural de travessura brasileira. Para a forma do Sporting jogar, a sua entrada pode ter menos impacto (entenda-se risco de abalar) no processo coletivo do jogo leonino.
Este Sporting está num processo de mudança em termos de subir o local de estacionamento do seu bloco no jogo. Num jogo destes, porém, mesmo tendo de o ganhar, o mais provável até será dar, estrategicamente, alguns passos atrás. Para resgatar a memória coletiva de defender em organização (em vez de pressão como prioridade) e, jogando na expectativa, soltar depois o ataque (e seus avançados definidores, quase como expressão de outra equipa, a segunda metade que incorpora outro jogo). É a noção do melhor plano para ganhar começar por, em vez de marcar, não sofrer. Porque, confia, que a oportunidade lá na frente chegará a seu tempo. E, essa, não pode falhar.
Pensamento de todo- o-terreno
Como goleadores, os avançados têm fases - a seca de golos de Paulinho e Taremi é, injustamente, uma cortina que impede de ver ao mesmo tempo o muito que jogam. Como jogadores, os médios são uma garantia: a condução de Vitinha e Matheus Nunes, como, mais do que motores, serem caixas de mudança de velocidades no cérebro do corredor central. Médios de inteligente mobilidade guardados nas costas por trincos de segundas bolas (Uribe e Palhinha).
Vitinha corre com tanta naturalidade que dá a sensação que não lhe custa esforço e fá-lo com o mesmo entusiasmo quando sobe no terreno na procura do golo ou, quando perde a bola, corre atrás do adversário para ajudar a equipa a recuperá-la. Matheus Nunes tem a vizinhança, quando avança até à frente, do deslumbrante Sarabia, que é, ao mesmo tempo, gerente e um perfeito sócio de todos que lhe passam perto (desde a ligação com o lateral que sobe pelo flanco junto ao seu espaço, quer no passe pelo campo todo).
É muito por esta sensação de segurança de visão que os jogadores mais táticos garantem que Conceição e Amorim preferem fazer alterações naturais do que retorcer o desenho tático (e dinâmica inerentes). Galeno e Edwards seriam (seguindo pensamento de texto ao lado) ameaças a essa sabedoria complementar dos movimentos do resto da equipa.