A JOGAR FORA - Um artigo de Jaime Cancella de Abreu.
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1 "O Catar não respeita os Direitos Humanos, toda a construção dos estádios, e tal... é muito discutível, mas esqueçamos isto.
Nem é discutível, é criticável, mas concentremo-nos na equipa" - com este depoimento teve Marcelo Rebelo de Sousa a singular capacidade de resumir a forma hipócrita como se deve olhar para o Mundial das decisões corruptas da FIFA, o Mundial dos ricos, o Mundial dos figurantes, o Mundial em que o dinheiro espezinhou alguns dos mais básicos valores da nossa civilização.
Teremos, por certo, oportunidade de ver o nosso Presidente, assim o Parlamento o autorize, bem composto e bem instalado nas mais luxuosas das tribunas dos estádios, de cachecol verde e vermelho ao pescoço, a apoiar a nossa Seleção - sem dúvida, mais um inestimável serviço prestado à Pátria.
2 "O Benfica, nas últimas três épocas, investiu mais de 200 milhões de euros e ganhou zero", atirou Frederico Varandas, sem que o entrevistador tivesse o cuidado de na volta lhe perguntar: sabe que o investimento se mede pela diferença entre compras e vendas de jogadores, logo o valor que o senhor apontou peca - e muito! - por excesso? Reparou que o Benfica não beneficiou de inadmissíveis perdões bancários, mais a mais, como no seu caso, escandalosamente anunciados na véspera de um ato eleitoral? Deu-se conta de que o Benfica não resolveu aflitivos problemas financeiros recorrendo a capitais angolanos de mais do que duvidosa proveniência? Sabe que o Benfica nunca entrou em "default" no pagamento das suas obrigações? Atacando o Benfica, Frederico Varandas prestou um inestimável serviço aos inquietos adeptos do seu clube, para quem, pior ainda do que o Sporting atravessar um mau momento, é o Benfica atravessar um bom.
3 A crer em números que vi publicados, as maiores assistências da Liga 2022/23 são as receções do Benfica ao Gil Vicente (57 277), Marítimo (56 889), Rio Ave (56 176), Paços de Ferreira (55 151), Chaves (54 990) e Arouca (53 617), clubes que estão longe, muito longe de poderem ser considerados apetitosos cabeças de cartaz. Somados a outros, são números como estes que alimentam inquietantes interrogações sobre a bondade de um modelo de centralização de direitos audiovisuais que conduza o Benfica à perda de receitas. Está muita coisa por esclarecer neste processo, pelo que seria um inestimável serviço prestado a todos nós se alguém explicasse como é que projetam aumentar, e aumentar de forma muito significativa, o bolo das receitas através da dita centralização.