APITADELAS - Opinião de Jorge Coroado
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Uma das primeiras recomendações que faço aos jovens cujo incentivo e gosto na arbitragem tenho patrocinado é: tenha cuidado com deslumbramentos e excesso de confiança, também com elogios e exaltações gratuitas.
A razão é simples e reside, tal como originariamente escrevia Pedro Escartín Morán, depois replicado por Francisco Guerra, no facto de: "Não basta saber de cor as Leis do Jogo. É preciso compreender o seu espírito para melhor aplicá-las. Só é possível ser árbitro completo desde que se tenha assimilado o espírito que ditou as Leis do Jogo. Não basta aprender as Leis. É preciso compreendê-las. Não basta saber de ouvido os pontos principais. É preciso ler com interesse", no sentido de que, para cumprir a espinhosa missão com êxito e denodo, o árbitro precisa de ter a palavra (conhecimento) e a mão (autoridade/personalidade) inteiramente livres e que o direito e liberdade de o árbitro avaliar, decidir e sancionar tudo quanto seja conveniente ao bom desempenho do encargo, é garantia absolutamente imprescindível.
Outrossim, enfatizo a desnecessidade de subserviência perante dirigentes, sejam da arbitragem, clubes ou afins, porém sem descurarem urbanidade e correção. A subserviência é o pior defeito do árbitro, o mais vexatório e o mais digno de censura. O cabal desempenho de um árbitro impõe uma conduta isenta de cobardia ou de aquietante comodismo.
De facto, iniciar a carreira de árbitro, é iniciar uma longa travessia do deserto durante a qual, ao contrário do que acontece com o conhecido rally, não se terá copiloto, nem assistência técnica, não obstante as formações ministradas. Não olvidar o poder discricionário consignado impõe-se.
Paradoxo
Do semanalmente observado nas diversas arbitragens, também atitude pidesca da confraria, facilmente se percebe não ser domínio dos árbitros e seus pseudo representantes, que o futebol não consubstancia um paradoxo e que a grande força do paradoxo é não admitir discussão, não tolerar análises, fugir a todo o controlo, porque a verdade, nas coisas humanas - o futebol é coisa humana - não é bacteriologicamente pura e não está toda de um lado, ou toda do outro. Com os mesmos subterfúgios, tanto se pode sustentar uma questão, como a questão oposta.
Compreensão
A todo e qualquer árbitro compete ter a compreensão que, embora a atividade seja, sob muitos aspetos, uma competição, a capacidade de discernir corretamente, com bom senso pode ser prejudicada pela preocupante ânsia de querer chegar mais além, ser mais acolhido. É importante saberem e terem a coragem de perceber que a pior traição que cometem a si próprios e à classe é complicarem um jogo em que não seria difícil mantê-lo sem polémica. O reconhecimento não advém das dificuldades, sim da capacidade em resolvê-las.