PLANETA DO FUTEBOL - Uma análise de Luís Freitas Lobo
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1 - Apenas duas jornadas e as terríveis circunstâncias já começam a rodear as grandes equipas. Não penso só neste ciclo (até esta jornada três) de campeonato jogado com mercado aberto (e nenhum treinador sabe com quem treinará e jogará na semana seguinte). Penso no que pode tornar-se toda esta época em termos de jogo.
Parece-me clara uma primeira tendência: as equipas querem evitar jogar no risco. É como se conduzissem os seus movimentos no jogo (sobretudo a atacar) sempre com o "travão de mão táctico" em cima. As variantes táticas, físicas e técnicas que terão que saber manejar serão cada mais e isso tem como consequência reforçar o processo defensivo (transição e organização).
Não é obrigatório pressionar sempre alto para pressionar-se sempre bem. Cada equipa (seu treinador) tem a sua estratégia de comportamento para este momento do jogo. É quando ela muda que o risco aumenta.
Penso no maior risco em que uma equipa pode meter-se: alterar para comportamentos para os quais está menos treinada/rotinada.
2 - Pensei nisto vendo as análises críticas feitas às exibições de Coates neste início de época. Não tem estado, é verdade, no melhor nível. A linha do fora-de-jogo falhada, uma "bola descoberta" que abriu demasiado espaço ente os três centrais (embora, neste caso, golo do Casa Pia, veja o problema mais de sincronização coletiva que tinha de fechar/juntar-se mais) e menor controlo da profundidade.
Esta é, porém, uma questão individualizada mas que ganha exposição devido à intenção dum diferente comportamento/posicionamento coletivo. O Sporting de Amorim defensivamente mais seguro (e campeão) era de bloco médio-baixo e mais de expectativa. Ao subir alguns (muitos) metros, a defesa subida (não necessariamente a pressão alta) expõe mais as fraquezas do que as forças de Coates, central imperial de bloco-baixo mas com mais dificuldade de reação, jogo de cintura/rapidez, em bloco médio-alto.
3 - Onde, no fundo, quero chegar com as reflexões dos dois pontos anteriores é que as grandes equipas para o serem em todos os momentos têm de saber lidar com aquilo que gosto de chamar a sensação de "jogar no precipício". Tanto taticamente, como mentalmente.
Quem jogar melhor nesses precipícios, tem vantagem (será o principal candidato ao título).
Saber manejar esses momentos é uma "masterclass" difícil de atingir porque implica sempre secundarizar o receio (e não há nenhuma equipa no mundo que não o sinta, por curto tempo que seja, alguma vez no jogo). Pode ser (como o Benfica no Bessa) o suficiente para ele fugir por instantes e perdê-lo.
Os jogadores, de todas as equipas, sentem isso no corpo de forma implacável, mas, atenção, jogar no risco não é o mesmo que jogar no precipício. O primeiro é uma opção no jogo, o segundo é uma obrigatoriedade do jogo!
Técnica
- Coates em bloco baixo ou médio-alto
- O risco de mudar posicionamento base
Tática
-Pressionar alto ou defesa subida?
-Jogar com "travão de mão tático"
Já não se discutem estilos
Pouco se fala de como as equipas jogam, só de resultados. Tem lógica? Simplificando os factos: um campeão faz-se de méritos próprios e da capacidade de aproveitar erros alheios.
Não sei qual será a percentagem maior a ditar, no final, a diferença entre primeiro e segundo mas no nosso campeonato arrisco a dizer que é muito da segunda. Quando um falha, o outro tem de aproveitar.
Isto não é só como acaba. Como se começa condiciona muito como acaba
A primeira e segunda volta da época passada foram muito isso. O FC Porto falhou na primeira, o Benfica na segunda. Ambos souberam aproveitar os erros mas os encarnados fizeram dois pontos mais. Além, claro, dos confrontos diretos onde acredito menos que o título se possa ganhar, mas onde, sobretudo para os ditos candidatos que partem mais como "outsiders", Sporting e Braga, se pode perder (como também se viu na época passada, sobretudo para o aspirante quarto candidato Braga).
A frase "isto é como acaba não como começa" vale tanto como a inversa. Isto decide-se como se começa, o que vai condicionar a forma como se acaba (ou, em rigor, como as equipas chegam a essa fase final).
A vontade do título é tanta que já nem se discutem estilos. O debate futebolístico decresce cada vez mais de qualidade. Em vez do jogo, só se discutem resultados. Inútil.