PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - É daqueles jogadores que parece mesmo jogar um jogo à margem de todos os outros em campo. Não é só pela sua qualidade técnica (isso muitos podem ter), é pela forma como tantas vezes quase parece estacionar em campo e jogar... parado, olhando apenas para as viagens da bola até esta ir ter com ele. É então nessa altura que Lincoln a mete onde quer, com visão e precisão, passe ou remate.
Podem, vendo este estilo, acusá-lo, pelos ditames do futebol moderno, de falta de intensidade, mas ele é daqueles casos em que (acredito) encolhe os ombros pensando para si próprio que era só o que faltava que tivesse de andar a correr desenfreado para jogar (bem) futebol. Assim construiu e fez, vendo tudo antes dos outros, com e sem bola, passe-movimentação-remate (podem inverter o final entre passe e remate) os golos para dar a volta ao resultado (de 1-2 para 3-2).
Um n.º 10 com trote de jogo à moda antiga trazido numa máquina do tempo para o presente. O futuro do bom futebol (com traço gourmet) está mesmo nas raízes mais profundas do seu passado.
2 - Ao meter Mansur mais por dentro, fechando como terceiro central pela esquerda (numa linha defensiva de cinco que também cobria em largura as subidas dos laterais leoninos), a organização do Santa Clara encaixava, com esse trio no eixo João Afonso-Boateng-Mansur, nos três avançados do Sporting (o 2x1 Sarabia-Pedro Gonçalves atrás de Paulinho), que jogam essencialmente em zonas interiores. Baixou o bloco e obrigou o jogo ofensivo leonino de recepção-passe a mover-se num espaço curto de 25/30 metros.
Quando esse espaço se reduz tanto, nota-se mais uma das limitações de base dos princípios de posicionamento e movimentação ofensiva deste Sporting, no qual mais do que serem os dois segundos-avançados a servir o ponta-de-lança, é este (o jogo de costas do n.º 9 pivô Paulinho) a jogar mais em apoios a essa dupla. Sem se mexer muito (porque reduziu o espaço com o recuo e junção de tantos jogadores), a organização defensiva açoriana engarrafou a criatividade atacante leonina.
3 - Este onze do Santa Clara anda desde o início da época a perder peças pelo caminho (a saída de Carlos Júnior logo no início, agora a de Morita) mas, mesmo com treinador interino (Tiago Sousa ganha argumentos) e tendo desistido de Nuno Campos, nota-se que o que faz de melhor vem duma espécie de recurso à memória coletiva de jogo que tinha com Daniel Ramos. Não receou a subida de ritmo de jogo e, por vezes, até tirou o nariz de fora para pressionar mais alto (sem perder controlo nas costas).
Nunca uma equipa da classe média do nosso futebol conseguira (com vitória no resultado) meter, desta forma, numa "jaula tática" o Sporting de Amorim. Não terá o efeito de desmoronar as certezas de tantos jogos anteriores, mas deixa sinais para os seguintes.
O treinador na "flash-interview"
Um momento muito esperado no fim dos jogos são as declarações dos treinadores ainda a quente. A expectativa cresce em função da situação em que ele está, que ora o torna emocionalmente acossado ou liberto. Seja como for, são momentos críticos porque, nessa altura, mais do que qualquer outra, a responsabilidade (pressão) está exclusivamente sobre eles. É necessário poder de equilíbrio. Independentemente do conteúdo, o que sinto mais condicionar, no geral, essas reações é o destinatário que eles querem atingir. Raramente mais do que responder ao jornalista que pergunta, sente-se ora a querer contentar os adeptos, ora o presidente, noutras atingir comentadores que lhe fizeram determinadas criticas, mas também os próprios jogadores (que não corresponderam às suas ideias) e a arbitragem, claro (embora esta quase sempre como plano de fuga)...
Ao tentar chegar a tanta gente, o mais normal é acabar por baralhar (encriptar) o discurso, até se contradizer. Num próximo artigo irei descrever o que me passa, especificamente, com cada um do nosso campeonato. Alguns fintam esse momento sabendo, simplesmente, o que não dizer, ou desvalorizando (encenado respostas) as questões mais quentes, mas a maioria tornou mesmo essas aparições num calvário para eles.