VISTO DO SOFÁ - Opinião de Álvaro Magalhães
Corpo do artigo
PSG e Manchester City, os dois clubes mais poderosos do planeta, onde os craques se atropelam uns aos outros, o que acontece, principalmente, no PSG, chocaram de frente na passada terça-feira, num jogo que foi mais - ou seria menos? - do que um jogo, remetendo-nos para um daqueles filmes de acção que se centram na luta entre duas criaturas monstruosas, algo como Godzilla contra King Kong.
Estes dois clubes já deixaram de representar associações de pessoas, tribos, para passarem a representar, principalmente, os estados que os compraram e financiam: o Catar, no caso do PSG, Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos) no caso do City. Diz-se que são dois clubes-estado, seja lá isso o que for.
E para que quer um estado abastado e ditatorial do Médio Oriente um clube de futebol sediado no outro lado do mundo? A resposta soa melhor em inglês: "sportswashing». Sim, estamos perante uma operação de limpeza da imagem internacional desses estados, os quais são acusados por diversas organizações de dissimularem através do futebol as suas práticas ofensivas dos direitos humanos.
Para eles, o futebol lava mais branco, talvez por causa do seu espesso vapor narcótico, que tanto tolda a razão. E no caso do Catar, a família real não se limita a comprar clubes e jogadores de topo, também «comprou» com subornos a organização do próximo Mundial. Se acrescentar a isso uma vitória do PSG na Champions, será limpeza a fundo.
Seja como for, a bola é deles. Compraram-na. E não se sabe ainda o que farão com ela. Com o seu manancial de dinheiro e as suas artimanhas financeiras estão a criar uma nova ordem, ridicularizando velhos ricaços como Barça, Juve, Real Madrid, de súbito transformados em aristocratas decadentes e falidos, que têm de ceder os seus melhores bens. E que nova ordem é essa? Não se sabe ao certo, embora sejam visíveis alguns sinais.
Como este: o dono do PSG, Tamim Khalifa, ficou irritado com a substituição de Messi no último jogo da liga francesa e advertiu o treinador Maurício Pochettino com uma nota no Twitter, que dizia: "Londres, de onde vieste, é uma cidade, não é? Se quiseres voltar pra lá...volta a fazer isso." Aliás, este senhor já avisou que, Messi, Neymar e Mbappé são como filhos dele. Logo, joga a família do patrão ou há problemas.
Em quase todos os aspectos, o que por ali se passa é uma perfeita negação do futebol, além de nos dar um visão assustadora do seu futuro. Por isso, o jogo agora é: o futebol contra o PSG e o Manchester City. Se, lá mais para a frente, os dois colossos forem eliminados da Champions, seja por quem for, ganhou o futebol. Porém, se este duelo de terça-feira passada se repetir na final, o futebol terá perdido, pois já estamos a falar de uma disputa entre dois fundos financeiros, duas famílias reais de dois estados longínquos e desconhecidos, dois monstros gerados pelo dinheiro, enfim, não de um jogo de futebol entre dois verdadeiros clubes.
E lá iremos nós ver esse jogo como se fosse o tal filme de acção, com actores famosos e muitos efeitos especiais. E desejaremos que ganhe um raio que os parta a todos.