O Porto, que conseguiu a proeza de perder com uma equipa cor-de-rosa, de brincar, feita com jogadores que já foram, não são, está na porta de saída do Mundial
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1 - Aí está o Mundial de Clubes, a ocupar o antigo defeso e garantindo que o futebol passe a ser um fluxo ininterrupto. Quando o futebol era apenas o futebol, tinha os seus tempos próprios, agora é também um produto e uma indústria, como todos o designam. Ora, nós sabemos o que é o futebol, mas o que é a indústria do futebol? Vamos conferir: treinadores, jogadores, preparadores físicos, médicos, psicólogos, fisioterapeutas, árbitros, roupeiros, tratadores de relva, agentes, assessores de tudo, jornais, revistas, TV. Junte-se a isto hotéis, companhias de aviação, agências de viagem, restaurantes, fábricas de material desportivo, armazéns de logística, lojas de merchandising, e por aí fora. Tomem nota deste dado impressionante: cerca de um terço da população mundial depende directa e indirectamente do futebol. É, pois, para manter esta portentosa máquina ocupada, a facturar, que o futebol não pode parar. Aliás, os responsáveis máximos do futebol não defendem o futebol, defendem a indústria do futebol. Acrescentem um I à sigla da FIFA e chamem-lhe Federação Internacional da Indústria do Futebol.
2 - Os jogos entre europeus e sul-americanos têm posto a nu a superioridade física e anímica destes últimos, que estão no pico da forma, enquanto os europeus estão a usar a gasolina da reserva. E nota-se muito que a maioria dos jogadores das equipas europeias, que já jogaram para cima de 60 jogos, preferiam estar na praia ou a passear de iate.
3 - Vinte e nove anos separam o jogador mais novo, Takeshi Wada, do Urawa, de 16 anos, e o mais velho, Fábio, guarda-redes do Fluminense, que está quase nos 45. O que nos diz muito sobre a amplitude etária do futebol actual. Cada vez mais novos, cada vez mais velhos.
4 - Belotti foi expulso por trocar a bola pela cabeça de um defesa do Boca Juniors, depois de ter sofrido idêntico castigo de Matheus Reis. Alguém lhe devia ter dito: «Não foi esse, pá!». Mas aquele argentino é que estava à mão, perdão, ao pé. E alguém tinha de pagar, não é?
5 - A imagem de um bebé com as cores do Porto, no Porto-Palmeiras, foi, a avaliar pelas redes sociais, a imagem mais marcante do jogo. No entanto, são muito escassas as imagens dos adeptos nestas transmissões. Como se eles não fizessem parte do jogo e não fosse neles que vemos melhor o que está a acontecer.
6 - Dizem-nos que os brasileiros são o povo mais entusiasmado com este Mundial, seguidos pelos argentinos, egípcios e tunisinos (os europeus estão no fim da lista). Deu-se logo por isso com o festim de parcialidade que se seguiu ao Porto-Palmeiras. Aquele 0-0 foi festejado no Brasil como se fosse uma goleada: um entusiasmo tão delirante que só pode sinalizar um complexo de inferioridade.
7 - E as equipas portuguesas? O Benfica está na porta de entrada da segunda fase, embora sem brilho, mas o Porto, que conseguiu a proeza de perder com uma equipa cor-de-rosa, de brincar, feita com jogadores que já foram, não são, está na porta de saída, em total coerência com uma época tão frouxa e apagada que será difícil encaixá-la na história do clube.
E assim vai o mundo, perdão, o Mundial.