VISTO DO SOFÁ - Uma opinião de Álvaro Magalhães
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O presidente do Conselho de Arbitragem, Luciano Gonçalves, disse recentemente que «o tempo útil de jogo tem de aumentar». E disse bem. Jogos mais fluentes e com mais tempo de futebol jogado é um desejo ardente de todos. A nossa Liga teve, na última época, uma média de 50:44 minutos de tempo útil de jogo, o que lhe dá o penúltimo lugar entre as dez principais ligas europeias, com quase sete minutos a menos do que a média da primeira liga neerlandesa, que lidera essa lista, com 56:42 minutos. Como chegamos a isto? Os nossos piores árbitros, que são muitos, transformam qualquer jogo, mesmo correcto, num concerto de apito. Em vez de protegerem o jogo, protegem-se a eles próprios e marcam faltas e faltinhas, por tudo e por nada. Há contacto, há falta, como se o futebol não fosse um jogo viril, de contactos, mas uma delicada brincadeira de meninas.
Pior do que nós só as ligas sérvia, grega e venezuelana. Mais um esforço e chegamos ao título mundial de faltas
Para não caírem no erro de não marcarem uma falta que existiu, marcam faltas que não existiram, o que também é um erro. Por outras palavras: cometem erros com medo de errar. Mais de metade das faltas assinaladas aqui não seriam marcadas na Premier League, por exemplo, onde, antes de mais nada, se defende a continuidade e qualidade do jogo. Veja-se, por exemplo, o caso do árbitro Luís Godinho, que é o que mais contribui para a desgraça. Segundo o site Who Scored, marca uma média de 31 faltas por jogo e mostra uma média de seis cartões. Ele é sempre o mais activo em campo.
Assim, não admira que tenhamos uma das ligas mais faltosas à escala mundial, com uma média de 27,9 faltas por jogo. Pior do que nós só as ligas sérvia, grega e venezuelana. Mais um esforço e chegamos ao título mundial de faltas.
Acontece também que muitas das faltas que por aqui se marcam são induzidas por simulações dos jogadores, esses exímios caçadores de faltas e cartões para o adversário. Não é um exclusivo nosso, mas é certo que elevámos a arte do engano ao seu mais alto expoente.
Tantas lesões graves que passam, logo a seguir, com uns borrifos de spray milagroso. No recente clássico de Alvalade houve dois exemplos extremos dessa arte, um para cada equipa, já que, nesta matéria, não existem excepções. Ricardo Mangas sentiu um ligeiro toque de Borja Sainz no cotovelo e lançou-se para o relvado, a rebolar, simulando um sofrimento atroz. Nunca se tinha visto tamanha dor de cotovelo. E o número circense rendeu um amarelo para Borja Sainz. Por sua vez, Zaidu foi atingido por um isqueiro vindo da bancada e fez um número parecido. Homens fortes, rijos, viris, que são abatidos por um toque no cotovelo e por um isqueiro. Diga o leitor: é de rir ou de chorar?
No entanto, é preciso ter presente que os nossos jogadores simulam quase tanto como jogam por saberem que estes árbitros apitam sempre que um jogador cai. Os dois vícios (música de apito + teatro amador) laboram em conjunto, formando um sistema, o tal sistema que emperra os jogos, esgotando a nossa paciência. Livrai-nos desse mal (Amen!) e veremos o jogo crescerá em utilidade e beleza, será nosso o reino da bola.