PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Um artigo de opinião de José João Torrinha.
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Com o mercado a fervilhar, registamos o padrão de há uns anos a esta parte: a apetência cada vez maior por jovens talentos. Os clubes endinheirados investem hoje mais no potencial do jovem jogador do que no rendimento consolidado ao longo de épocas consecutivas.
E assim assistimos à debandada da juventude talentosa lusa.Esta é, todavia, uma boa tendência para o futebol português. Não é de agora que Portugal se distingue como país produtor de talento futebolístico. Mas nos últimos anos percebemos que tudo tinha que se fazer para aprimorar essa "produção" de talento.
A criação das equipas B e de sub-23 foi um passo de gigante nesse sentido, a par com o bom trabalho feito nas seleções nacionais jovens e nas academias dos clubes.Num país que não tem os recursos financeiros para ombrear com as ligas ricas, já se percebeu que este é o caminho, que esta é a nossa galinha dos ovos de ouro. Por isso, o investimento na formação é quase sempre virtuoso e leva vantagem sobre outras apostas, que supõem um investimento mais avultado e tantas vezes mais arriscado. Claro que há sempre o outro lado.
Muitos comentam que os nossos jovens saem para o estrangeiro demasiado cedo. Essa é, muitas vezes, uma realidade, que em última instância prejudica os próprios jogadores, obrigados a crescer depressa demais e os próprios clubes, precocemente privados do seu talento. Todos conhecemos casos de jogadores que ainda não estavam preparados e assim arruinaram a sua carreira ou que tiveram de dar um passo atrás.
O desafio dos clubes é, pois, o de retardar ao máximo possível as saídas, por forma a que os jogadores primeiro rendam desportivamente e só depois rendam financeiramente. A título de exemplo, seria mais natural que o meu Vitória vendesse André Almeida (que já vem rendendo a alto nível) do que Gui, que tem o potencial todo, mas ainda está a dar os primeiros passos.
Finalmente, importaria que a Federação, na continuação do bom trabalho que tem feito nesta área, se debruçasse com atenção para a preocupante tendência de os três clubes do costume, quais aves de rapina, atacarem todo e qualquer jovem jogador da formação que se vai destacando nos escalões mais jovens dos demais clubes.