Por que razão em Guimarães se sucedem as intervenções das forças policiais com cargas sobre os adeptos?
PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Opinião de José João Torrinha
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Só há quatro clubes em Portugal que reúnem todos estes fatores: estádios com assistências de muitos milhares de aficionados por jogo; grupos organizados de adeptos no apoio à equipa; uma massa adepta fervorosa e que segue incondicionalmente o seu clube e mais nenhum. Esses quatro clubes são o Vitória e os três clubes do regime.
Estes fatores não tinham necessariamente que ter um reverso da medalha. Mas infelizmente têm tido. Naqueles clubes tem havido problemas com alguns adeptos ao longo das últimas décadas. Os casos estão na memória de todos, desde os menos relevantes até a episódios gravíssimos.
Falo pelo meu clube e já aqui escrevi que, sendo o Vitória um clube único, seria extraordinário que o fosse também aqui. Que deixássemos para os outros os incidentes nos estádios e fora deles. Que também aqui fôssemos um exemplo. Infelizmente, nesse aspeto, não nos distinguimos muito dos tais três.
Aqui chegados, importa fazer uma pergunta: não sendo os nossos problemas diferentes dos dos outros, por que razão em Guimarães se sucedem as intervenções das forças policiais com cargas sobre os adeptos? Por que motivo em Guimarães é tão fácil usarem-se os métodos mais agressivos, mais radicais na resolução dos problemas que possam surgir nas bancadas? E já agora outra pergunta: alguém imagina o que aconteceria se na Luz, no Dragão ou em Alvalade houvesse cargas policiais com esta frequência?
Sejamos claros: a ideia de querer ver os adeptos do Vitória como uma espécie de arruaceiros que mancham o quadro idílico que se vive nos estádios portugueses é uma falsidade. E isso é assim não só porque a esmagadora maioria dos Vitorianos é ordeira e absolutamente pacífica, mas também porque aqueles muito poucos que não o são existem em igual medida nos tais outros emblemas.
Não há, por isso, qualquer estado de exceção em Guimarães. E não há nenhum estado de exceção que justifique que tão facilmente se opte pelo uso de medidas extremas na resolução de problemas que possam existir.
Convenhamos: é normal que num jogo em que não existia um único adepto adversário nas bancadas, tenhamos assistido ao que assistimos no D. Afonso Henriques? A primeira estratégia das forças de segurança não devia ser preventiva, evitando que as coisas descambem com tamanha facilidade? Há muitas respostas por dar e é bom que elas venham rápido.