HÁ BOLA EM MARTE - Opinião de Gil Nunes
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Leão alinhou a direção
São duas épocas a somar 85 pontos e um desempenho desportivo consistente como há mais de vinte anos não se via. E três ou quatro meses abaixo as expectativas, mas longe de serem uma catástrofe. Entre aritmética e emoção imediata, prevalece a frieza dos números. É para seguir em frente. Com Rúben Amorim. Pensando a longo prazo.
É lógico que nem tudo é perfeito e há sempre dúvidas: dinâmicas à parte, há quanto tempo é que o Sporting não joga com uma linha de quatro defesas? Será que esta ideia de nuance atrás de nuance não terá um limite algures no tempo, tornando o leão cada vez mais previsível? Ou como irá o Sporting reagir se, entretanto, ficar sem o seu diamante Porro?
É certo que o Braga ajudou mas o Sporting mostrou que aproveitou o Mundial para alinhar a sua direção. Corrigir o que está mal; voltar a jogar de forma confiante em situações de risco (pressão alta adversária); e consolidar o crescimento das segundas linhas, especialmente jovens. E vem aí a Liga Europa: pese embora os milhões a menos, trata-se de uma oportunidade única de consolidação internacional.
Marko Grujic: libertação da Colômbia
É uma aposta imediata, de acordo com um trabalho "formiguinha" que tem sido realizado em torno de um médio sérvio visto como de tremendo potencial. E os benefícios são, sobretudo, indiretos. Com Grujic no onze, há jogadores que fazem disparar o seu rendimento ofensivo - caso de Uribe, mais liberto de preocupações defensivas e propenso a aparecer em zonas de finalização ou mesmo Otávio, também mais apto a pisar zonas mais dianteiras. Frente ao Gil Vicente, a simplicidade de processos, resposta ao nível do jogo aéreo e capacidade para jogar fácil com ambos os pés valeu mais uns pontos a Grujic nas suas contas por um papel mais interventivo na equipa. Que vai conseguir.
Francisco Trincão: pisa novas zonas
Mais um jogo conseguido do extremo, agora mais confortável a pisar zonas mais centrais e, também, mais intenso e agressivo a aparecer em situações de finalização. No lance do segundo golo foi o pivô de serviço no passe longo de Porro e permitiu, com um simples toque de cabeça, uma posterior fácil conclusão de Paulinho. Pouco depois, no lance do quarto golo, soube dar espaço à aceleração de Nuno Santos para se posicionar mais ao meio e, com isso, concluir com segurança. À semelhança do que tem acontecido com vários colegas, tem aproveitado a Taça da Liga para afinar procedimentos e readquirir novos índices de confiança.
Rafa Mujica: aqueles movimentos
Frente ao Moreirense marcou o golo decisivo e, para além disso, foi uma ameaça constante sempre que partia de trás e arrancava em direção à baliza, com aquele instinto goleador aguçado e apto a finalizar de forma pragmática com qualquer dos pés. O avançado espanhol somou mais um golo decisivo e mostrou-se, novamente, muito hábil a responder em profundidade e sempre no timing certo, afinado com as dinâmicas da equipa e com aquelas movimentações de excelência. Com características algo diferenciadas, aos 24 anos mostra-se como um dos jogadores em foco de um Arouca que pratica bom futebol e que chega à final four da Taça da Liga com todo o mérito.
Braga: uma questão de estatuto
Perder é humano. Perder em Alvalade não é nenhum cataclismo. Agora, perder é uma coisa, ser sovado é outra: o Braga da primeira parte foi macio, irreconhecível, e com um desempenho pobre e não compaginável com o seu estatuto. Intervenção presidencial justificou-se: há coisas que não podem voltar a acontecer.