HÁ BOLA EM MARTE - Opinião de Gil Nunes
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Perder contra a Sérvia foi a melhor coisa que aconteceu à Seleção Nacional. É claro que a frase só ganha contornos românticos a partir do momento em que Portugal ultrapassa o play-off e se apura para o Mundial. Mas o passado já não conta: o susto sérvio motivou a reflexão, e a reflexão desaguou na conclusão: só mudando para um estilo mais ofensivo e adaptado às características dos jogadores é que Portugal poderia dar um salto em frente. Como está a dar.
E a equação do êxito parece ser simples. Respeitador q.b para perceber a superioridade da seleção da Espanha e adaptar o jogo ao bloqueio dos seus pontos fortes; mas nunca subserviente ao ponto de não perceber que Portugal é superior à Suíça e à Chéquia e que, por isso, em condições normais (leia-se lei do mais forte) ganhará mais vezes do que aquelas que vai perder. Contudo, os bons engenheiros também mudam, mas colocam sempre uma variável de prudência em cima da mesa: a estabilidade da linha defensiva como pilar do edifício. Os 270 minutos de Pepe, Danilo e Cancelo sustentam o novo paradigma português. Faça-se luz!
Rúben neves: a herança espanhola
Lopetegui saiu do FC Porto pela porta pequena e tal não traz saudade. No entanto, algumas coisas positivas foram deixadas pelo técnico espanhol. Desde logo a aposta firme num jovem de 17 anos que, no imediato, captou as atenções. Agora, é tempo de se afirmar na Seleção Nacional porque se Portugal quer jogar mais em posse tem mesmo de apostar no seu pivô defensivo mais hábil a definir o jogo do meio-campo para a frente: muita precisão no passe longo e astúcia na mudança do centro do jogo, as recentes performances frente a Suíça e Chéquia mostram que está pronto para voar mais alto. Mesmo não ignorando o brinde concedido nos últimos minutos frente à Chéquia, Rúben não desiludiu.
Danilo Pereira a central? Sim
Ter Danilo Pereira nos eleitos oferece uma dupla segurança: um médio-defensivo pronto para todas as eventualidades e um central consistente, algo que, na filtragem final dos selecionados, faz com que os centrais escolhidos sejam apenas três e, com isso, se abra uma vaga para outro jogador noutro setor. Habituado a grandes cavalgadas para assegurar a eficiência das transições defensivas, é ver os centrais da Seleção a jogar mais à frente e a definir novas soluções em termos de construção de jogo. Depois de ter dado resposta afirmativa no play-off, Danilo volta a não desiludir e a mostrar que se está a trabalhar na criação de novas soluções para a posição de defesa-central.
Simon Banza: cobiça natural
De facto, os jogadores de qualidade são aqueles que verdadeiramente não precisam de adaptação e começam logo a render. Ainda jovem, Simon Banza não desiludiu com as cores do Famalicão: foram 17 golos, 5 assistências e uma forma de estar no jogo que não se cingiu ao fator golo: muita articulação com a dinâmica da equipa, soube também crescer ao longo da temporada, sendo melhor jogador no final do que quando chegou a Portugal. Hábil e possante, aos 25 anos, estão criadas as condições para continuar a potenciar o seu jogo num clube de maior dimensão. E, uma vez mais, o Famalicão mostra ser um excelente viveiro de talentos.
Paulo Sousa: ironia do destino
A questão não era a de chegar, ver e vencer. A questão era chegar ao Flamengo, vencer e eliminar o fantasma de Jorge Jesus. Opção arriscada, ainda por cima com a agravante de se deixar uma seleção no início de um play-off decisivo. Mas a Polónia vai estar no Mundial. Já Paulo Sousa nem no Brasil nem no Catar. E agora Paulo?