Partimos com o espírito de morder os calcanhares ao Sporting ou a qualquer outro
VELUDO AZUL - Opinião de Miguel Guedes
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Morder os calcanhares à primeira jornada. Poderá ser esta a ideia que Sérgio Conceição quer transmitir ao plantel e, de alguma forma, a todos os adeptos.
Compete ao FC Porto confirmar a unanimidade, à primeira jornada, da conquista dos três pontos pelo "Bando dos 4"
A conferência de imprensa que antecipou o jogo de hoje com a Belenenses SAD foi um bom medidor de pH à forma como o FC Porto pretende abordar a entrada na Liga. Nada neutro, nada ácido. Alcalino e duro, com a noção de que só com muito trabalho e empenho se conseguirá cortar a meta acima dos outros três candidatos ao título. Suplantando o Sporting, favorito por partir campeão. É Conceição que o diz e bem, antes da estreia-chapa-3 ao Vizela, com um Pedro Gonçalves em estado de graça no que a finalizações bomba-arte diz respeito.
Como Rúben Amorim refere, "Pote" ganha em ter um treinador com paciência que aguente os seus ocasos no jogo. É que, a qualquer momento, define e resolve. Sérgio Conceição não é conhecido por ser um treinador de extremosa paciência mas sabe, como ninguém, motivar um grupo de jogadores para a reconquista de algo que - interiormente - pensa ter deixado escapar por culpa própria entre os dedos da época passada. E parece ser assim que partimos, com esse sentimento, a olhar para cima mas de igual para igual, no espírito de querer morder os calcanhares ao Sporting ou a qualquer outro, logo à partida. A expressão, normalmente utilizada por quem já corre atrás de um prejuízo, ganha novos contornos.
Após as vitórias de Sporting, Benfica e Braga, compete ao FC Porto confirmar a unanimidade, à primeira jornada, da conquista dos três pontos pelo "Bando dos 4". Este ano, a entrada na Liga não pode ser um passo em falso e os adeptos, aqueles que hoje estarão finalmente de regresso ao estádio para reencontrar parte de Dragão do amor das suas vidas, não merecem outra coisa que não gritar golos, mais golos do que o seu adversário. "Salir a gañar", dizia Camacho.
Ausência do que nunca teve
À medida que o mercado avança, percebe-se que não vai para lado algum. Cada vez mais se interioriza a ideia de que o plantel pouco mexerá e de que eventuais correcções serão mesmo cirúrgicas. "Os jogadores não são para mim, para jogar no meu quintal, não sou eu que os compro", afirmou Sérgio Conceição. A ideia de que os treinadores não veem o mesmo que os adeptos é, naturalmente, um mito de campo pelado.
Valha-nos a exigência e esta inquebrantável força que nos entrou no ADN, esta, a de fazermos das tripas coração
Os treinadores, profissionais da relva, muitas vezes são obrigados a cortar a direito e a fechar os olhos porque não lhes resta outra solução. Vão a jogo com o que têm. Mas o treinador do FC Porto encara o "downgrade" de frente: "a equipa, em nomes e qualidade individual, tem decrescido de qualidade". "É um problema do futebol português", acrescenta à laia de nivelamento por baixo e de cachecol de conforto. Mas a verdade é que também ele vê, como o comum dos adeptos, as lacunas, as dificuldades e - olhando para o onze - a ausência do que nunca teve. Valha-nos a exigência e esta inquebrantável força que nos entrou no ADN, esta, a de fazermos das tripas coração. Cumpramos então esse nosso destino.