PASSE DE LETRA - Opinião de Miguel Pedro
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1 - A palavra "crónica" provém do vocábulo latino "chronica", que significava "tudo o que é relativo ao tempo." Daí existir uma relação muito próxima entre "crónica" e "História (com H grande), pois ambas fabricam memórias, usando o tempo (os eventos temporais) como a sua matéria-prima.
Assim, se um historiador, daqui a 100 ou 200 anos, quiser reconstruir as memórias do SC Braga neste início de século, este meu espaço de crónica poderá auxiliá-lo nessa tarefa.
Ora, para que este espaço de texto sirva tal propósito, não é possível alhear-se do que se passa no mundo para além do futebol. Da mesma forma que muitos dos meus textos anteriores abordaram o contexto da pandemia, também agora é impossível fugir ao contexto do ato bárbaro da invasão da Ucrânia pelo exército de Putin.
Não me caberá, neste contexto de crónica, tecer considerações de geopolítica ou de história para falar deste evento que marcará a história do sec. XXI, pois, além de não ter os conhecimentos para tal, esta é, afinal, uma crónica sobre futebol.
Por isso, não poderei deixar de escrever sobre futebol. Mais concretamente, sobre algo que, de certa forma, nos é próximo: logo após o jogo em Braga, o ucraniano Yuriy Vernydub, treinador da equipa moldava do FC Sheriff, deixou a Moldávia e voou para a Ucrânia para defender a sua família e a sua terra, na cidade natal de Zaporozhye. Esta atitude do treinador ucraniano (e de tantos atletas e desportistas ucranianos que estavam fora do seu país) diz muito do que, infelizmente, podemos esperar desta guerra desigual: de um lado, um invasor poderoso, fortemente armado, com espírito imperialista e mandatado pelos capitalistas oligarcas russos, e que (diz-nos a História), nunca recua na sua ânsia conquistadora; do outro lado, um povo orgulhosamente transformado em exército para defender a sua terra, que nunca se rende, muito menos aos vizinhos russos. Todos sairemos a perder. Putin, esse já perdeu...
2 - Voltando ao futebol jogado: confesso que esperava que, após os jogos contra o Santa Clara e Boavista, o SC Braga tivesse mais pontos do que os que atualmente tem. Dois empates consecutivos com sabor algo amargo. É certo que em nenhum dos jogos o Braga fez um daqueles jogos que nos deixam de espírito cheio. Mas a entrega dos jogadores e a sua dedicação ao jogo foi total.
O que faltou, então? Bem, faltou aquela pontinha de sorte que é necessária neste tipo de jogos. Bolas na trave, bolas que parecem que vão entrar e são tiradas em cima da linha, situações de golo cantado que, por azar, nuns casos, ou alguma falta de perícia, noutros casos, nos deixaram só com os empates. Foi isso que faltou, na minha opinião.
A luta pelo 4.º lugar está, assim, bem acesa e o próximo jogo do campeonato será muito importante, senão mesmo decisivo, pois é precisamente contra o vizinho de Barcelos, que joga inflamado pelo moral que tem vindo a acumular com bons resultados consecutivos. E o 4.º lugar, para o Braga, é o objetivo mínimo obrigatório, convém não esquecer.