VELUDO AZUL - Uma opinião de Miguel Guedes
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E, de repente, há uma "questão Moutinho", comprando-se um problema tão desnecessário como evitável. Um jogador como João Moutinho vai parar de jogar quando entender que já não o deve fazer. Fará bem as suas escolhas. Um jogador como João Moutinho não toma más decisões ou escolhe maus finais. Quando assegura que assinou pelo Braga pelo facto de se sentir "desejado, útil e querido" saberá bem do que fala e sente. Moutinho sabe o quão desejado e querido era e é pelos adeptos do FC Porto, o que comprovará no primeiro momento em que pise o Dragão com a camisola do adversário. Isso é tão indiscutível como o seu indiscutível valor. A sua também indiscutível utilidade no Dragão implicaria mudança e escolhas.
A um líder, compete a dimensão da escolha. Não acredito que algum treinador rejeite Moutinho. Mas acredito que todos os treinadores devem definir claramente as suas prioridades
Estão por historiar os passos que aproximaram e afastaram João Moutinho do seu clube do coração. Com uma dupla aposta (Nico González e Alan Varela) para colmatar a saída de Uribe e reforçar o meio campo, a saída de Otávio adensou a necessidade de encontrar alguém que tenha uma estirpe definidora de maestro ofensivo. Sendo Iván Jaime um jogador diferente do luso-brasileiro, o espanhol pode alimentar a expectativa de somar, tal como Otávio, arrojo e qualidade à equipa que permita um coletivo mais imprevisível e competitivo no último terço. A um líder, compete a dimensão da escolha. Não acredito que algum treinador rejeite Moutinho. Mas acredito que todos os treinadores devem definir claramente as suas prioridades.
A compreensão a jusante é simples. Se o compromisso com Moutinho impede a contratação, ainda que por razões financeiras, de outro jogador diferenciado que se considere essencial após a saída de Otávio, há um racional na escolha. O grande comprometimento e angústia reside na gestão do processo e no "timing" da decisão.
Depois e no final, os símbolos. Ou antes, a proteção dos mesmos. O espetro da divisão da casa não assoma quando eventuais injustiças são cometidas com alguém entre muitos. Todas as decisões são questionáveis e cada um dos responsáveis diretivos ou técnicos são eleitos ou contratados para tomar decisões que provarão num bom ou mau resultado. O julgamento raramente terá a ver com o processo ou a qualidade das opções mas sim com os resultados, ainda que - tantas vezes - fruto do demérito de outros. Mas a simbologia, o processo de identificação com um jogador, um treinador, um Presidente, um ente significante, de uma parte da História em modo regresso, mexe com o afeto, incomoda, impele ao cuidado. Sendo para quebrar, convém não mexer.