PLANETA DO FUTEBOL - Uma análise de Luís Freitas Lobo
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1 - Subitamente, entrou um alemão na história. Roger Schmidt sai da linhagem de estilo e método da nova escola alemã que tornou o físico na intensidade com técnica, sempre em velocidade, fazendo do jogo de muitas destas equipas a referência a seguir no atual futebol europeu, de Tuchel a Klopp. As pessoas divertem-se a ver jogar estas equipas.
Se é este estilo que o Benfica pretende, tal marca rutura com o momento atual onde, no pós-Jesus, a equipa caiu num modelo híbrido que não se assume no plano nacional e conseguiu o melhor resultado da época a jogar num bloco baixo junto à área (contra o Ajax), ideia de jogo que nunca poderá ser a base para uma equipa grande. Foi ideal, face às tais circunstâncias, para aquele jogo em concreto, mas seria impossível com um alemão daquele "novo testamento tático teutónico".
É neste cenário de referências (atuais e futuras) contraditórias que entra em campo, neste momento, a equipa do Benfica. Como num limbo existencial em face da travessia da política desportiva do clube.
2 - A primeira parte valeu pela tática-Rafa. Cada arranque seu, pelo meio ou vindo aberto desde longe, era uma promessa de perigo que depois não tinha elo de ligação final com remate. A sensação era que Rafa fazia tudo sempre mais rápido, no pensamento e na execução, provocando assim essa dicotomia de eficácia em começar bem a jogada (individualmente) e acabá-la mal (coletivamente). A passagem para 4x3x3 na segunda parte metendo João Mário, que abranda o jogo por natureza, visava exatamente esse maior controlo de ligação entre ritmos.
O golo de livre de Iuri Medeiros dava no resultado uma vantagem que o Braga não teve no jogo jogado, mas a equipa sentia que, mantendo-se atenta atrás da linha bola e cobrindo sobretudo em largura (travando os laterais encarnados), podia ir gerindo a situação tática que a impedia de ter mais controlo em posse.
3 - O que faz hoje Ricardo Horta, de cada vez que recebe a bola e tem a perceção perfeita do espaço em que o faz e de tudo que o rodeia, mostra um jogador com olhos por todo o corpo. A forma como tratou aquela bola para dar o segundo golo subiu acima do jogo numa fase em que o Benfica procurava crescer taticamente em cima do 4x3x3. Era evidente, porém, a indecisão de João Mário sobre o que fazer, qual a opção a tomar em muitas jogadas. Depois de ignorá-lo na origem das várias tentativas de restruturar as ideias de jogo, foi como meter um objeto hoje estranho ao coletivo. A equipa, mesmo quando chegou ao 2-2, nunca percebeu ao que jogava e, por isso, perdeu.
As equipas são animais coletivos, de hábitos. O Braga, mesmo com tantas mudanças, sabe bem isso e ganhou em cima dessa maior noção de equipa e capacidade de sentir o jogo, mesmo quando este caiu no caos na parte final. Al Musrati meteu a ordem geométrica.
Volta ao Mundo com bola
A babilónia dos primeiros adversários de Portugal no Mundial. Os dentes cerrados (análise literal) de Luiz Suarez tem agora, com Cavani ou Darwin ao lado, em 4x4x2, uma estrutura mais sólida a protegê-los com os médios-centro Betancourt, Valverde (que cresce muito no Real Madrid) e o poder de jogar aberto e surgir por dentro de Arrascaeta, organizador e rematador com grande cultura tática, enquanto a defesa continua a ser propriedade de centrais que não fazem prisioneiros: Gimenez e Godin
Paulo Bento não mudou o estilo da Coreia, essencialmente de ataque à profundidade, onde Son (Tottenham) e Hwang Ui-Jo (Bordeaux) são os mais rápidos nessa dinâmica, com Hawng Hee-Chan (Wolves) e Lee-Dong (Hertha) mais capazes de jogarem nas alas mais em posse. Na defesa, centrais fortes, a "conexão Kim": o chefe experiente Kim-Young-gwon e Kim-Min-jae, a emergir no Fenerbahce.
A dinastia Ayew, com o irmão Jordan a descair na direita, continua a gerir o Gana que também sabe sofrer a defender como fez para empatar na Nigéria, onde se impôs o meio-campo chefiado por Thomas Partey num 4x2x3x1 que tem no nº 10 Kudus (Ajax) - controlo finta e remate - a face mais criativa do onze. A equipa também defender em bloco baixo, com os centrais Amartey e Djiku a crescerem para todas as bolas.