PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 No topo, encurtou-se a distância para o primeiro lugar, e, no fundo, a zona de descida permanece um fosso para dois clubes.
Entre estes extremos, no campeonato da classe média, apenas seis pontos separam a primeira equipa (Santa Clara) fora da linha de água e o sétimo lugar (Portimonense) que inicia o chamado "campeonato tranquilo" que estes clubes buscam alcançar. Não é fácil tal a proximidade entre uns e outros. Neste espaço estão dez equipas (a décima, o Gil Vicente, com menos um ponto apenas está no "play-off").
A cada jornada que passa temos sensações diferentes em relação à direção em que irão fixar-se para a fase decisiva da época.
2 Iniciando um novo projeto de Direção, o Vizela mudou (contra a bancada) de treinador. Tulipa, o novo dono do banco, mostrou desde que assumiu a obrigatória insensibilidade a essa questão. O seu foco está em colocar a equipa a jogar um futebol mais compacto no sentido de bloco, pressão e definição.
No fim do dérbi com o Vitória, mostrou como busca potenciar o ponto forte do onze: a boa capacidade de ligação, isto é, a qualidade de decisão e execução/passe do meio-campo para o ataque.
Nesse sentido, mais do que mexer no onze, a prioridade é mexer onde o bloco se deve preferencialmente colocar (o que se traduz em subi-lo um pouco, médio-alto, em campo) para pressionar e (sem perder controlo defensivo da profundidade) servir melhor o ataque.
É assim que se dá importância aos médios e mesmo já faltando por vezes pernas ao seu n.º 6 físico-posicional Claudemir, tem Guzzo para fazer a bola sorrir no passe, permitindo, desta forma, o emergir para patamares mais altos do jogo do jogador dito "operário", como é Samu. Mais do que um recuperador e "caça-segundas bolas", ele passou a ser o elemento mais adiantado nessa missão de ligação.
3 Não é fácil entender a irregularidade exibicional e de resultados do Portimonense. Talvez uma explicação esteja em não conseguir estabelecer um onze base (ou, sobretudo, um meio-campo base) dentro de um modelo de jogo que sente dificuldades na reação à perda. Paulo Sérgio queixava-se após a derrota com o Casa Pia das segundas bolas perdidas mas a questão é que esta não é uma equipa com jogadores (tirando Diaby) para esses combates. É antes um onze de... "primeira bola" que necessita de criar ligação (rotinas de posicionamento) no meio-campo. Isso também condiciona a ligação entre sectores, até com o ataque.
Um exemplo? Ainda não percebi, ao fim de várias épocas, qual a verdadeira posição e que tipo de jogador (reconhecendo-lhe grande valor técnico) é mesmo Luquinha. Vejo-o sempre a fazer boas jogadas mas mesmo nesses momentos são muitas as vezes que não o vejo, ao mesmo tempo, a fazer um bom jogo. Perceberam a confusão?
A reciclagem do Famalicão
Gostei de ver a nova ideia de onze no Famalicão que João Pedro Sousa lançou em Chaves.
Em 4x2x3x1 (juntando Assunção e Colombatto como duplo pivô), um novo n.º 10, Gustavo Sá (18 anos, com leitura dinâmica de jogo, hesitou um pouco no início sobre o que fazer mas depois cresceu muito no jogo), um ala direito, Pablo (19 anos, que também joga como avançado no meio a pegar muito bem na largura e associação interior), e um falso ala esquerdo, Ivan Jaime (de 22, o jogador mais criativo da equipa que, até agora desoladora e demasiadamente remetido para o banco, precisa de quem acredite nele e lhe dê essa liberdade para fazer em campo o que mais ninguém faz no poder de desequilíbrio a arrancar com a bola).
Com a defesa imutável e um ponta-de-lança de passada larga, Cádiz, que, sem ser um poço de técnica, está a simplificar melhor os seus processos de jogo, a equipa apareceu muito bem no campo todo. Pegou no jogo desde o início, marcou, segurou (com o valor extra de um guarda-redes, Luiz Júnior, de defesas que dão pontos) e voltou depois a controlar e ganhar.
Mais do que a vitória foi, porém, ver esta nova ideia de onze e seu jogo a funcionar que mais se destacou, criando expectativa para, esperando consolidação, ver os jogos seguintes.