PLANETA DO FUTEBOL - Uma análise de Luís Freitas Lobo
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1 - Acredito pouco nas transformações dos jogadores. Acredito em que há treinadores que melhor os aproveitam do que outros. Tal pode mudar do mais visível em termos de mudança de posição ou na atitude competitiva que tantas vezes parece adormecida num tempo e depois exaltada noutro.
O que, no fundo, quero dizer é que o jogador sempre teve o que agora mostra e que antes não o mostrava (ou não o mostrava com consistência), fosse porque razão fosse.
Penso nisso vendo como Florentino, o anterior nº 6 elogiado, mas "light", tornou-se fundamental no modelo da intensidade de Schmidt.
A verdade é que Florentino foi sempre assim. Sempre foi um recuperador de bolas e um médio que sabe estar em cima do jogo, pressionando, recebendo e entregando. O que Schmidt fez foi reconhecer isso nele e potenciá-lo. Não o transformou. Conseguiu foi tirar isso de dentro dele para o jogo.
Em suma, os jogadores não se transformam. Ninguém faz de alguém aquilo que não é. Os jogadores revelam-se. Uns conseguem isso por eles, outros precisam do treinador para o fazer.
2 - Era impossível algum defesa ou médio meramente terrenos travar a jogada quando Mbappé, Neymar e Messi desataram a trocar a bola rápido junto à área e, de repente, "zás", bola no ângulo enviada pela "pulga". O problema deste PSG é que tendo melhorado no meio-campo, com o labor técnico de Vitinha e o ardor de Verrati (mas obrigado pela inferioridade numérica do setor a demasiados contactos e faltas) é ser um onze que não existe como ideia de equipa.
O treinador pede, em gestos claros, para Mbappé abrir em diagonal de dentro para fora na direita em vez da esquerda, mas o jogador nem liga. O mesmo treinador pede para o terceiro central, Marquinhos, subir para trinco, e o jogador obedece imediatamente e assim muda o sistema, passa a controlar o ataque encarnado nessa zona e o coletivo tem o melhor período no jogo. Pode uma equipa viver assim? Não, nem me parece que pense muito nisso. Entre gregários e craques, o seu ecossistema corresponde ao regime que a inventou.
3 - Rafa joga como se mostrasse que o jogo pode ter uma dimensão que é só dele. E pode. Sem se desligar da equipa, está atento para apanhar as bolas que saltam da pressão alta assumida como princípio de ação coletivo atrás dele. Neste tipo de jogos, estas bolas chegam até ele quase sempre com o adversário desposicionado defensivamente. Por isso, os seus raides zig-zag" tornam-se mais perigosos. Falhou, por pouco, num deles, um "golo Messiano". Mostrou sempre, porém, uma concentração permanente no jogo e como pegar nas pontas soltas dele que se viam na frente. Num jogo de afirmação europeia coletiva, acabou a olhar para Neymar como "um entre iguais" quando o brasileiro (vejam quem) o acusava de ter simulado uma falta. Ironias do mundo ao contrário.
A equipa no foco de Adán
Não fui recetivo à teoria de que já se tinha reparado que ele esta época estava menos tranquilo mas a verdade é que existiam sintomas disso.
Antonio Adán (Sporting) é um guarda-redes com presença que quando dá um passo errado nota-se logo. Durante muitos jogos isso foi impercetível. O ter passado a notar-se será, porém, mais do jogo posicional da linha defensiva (como se colocam a defender e como se colocam para receber a bola que ele passa em início de construção). Isso muda a serenidade posicional dum guarda-redes. E, claro, também a estabilidade mental.
O problema de não se perceber exatamente qual foi o erro
O que mais me fez confusão naquela sua reposição falhada, que deu o 2-1 para o Marselha, foi nem se ter percebido para quem ele queria passar a bola. Acho mesmo que não tinha clara essa opção (que é, naturalmente, treinada) porque naquele momento muita coisa não estava no sítio certo, a sua cabeça e os posicionamentos que via.
Esta mudança de "chip de concentração" (entenda-se foco no jogo e respeito pelas posições) tem sido um problema do Sporting esta época. Por isso, Amorim ficou furioso com um golo sofrido no último minuto contra o Gil, mesmo com 3-0. A equipa já tinha "saído" do campo e tantas vezes tudo pode decidir-se (e mudar um jogo) num simples lance. São os misteriosos caminhos da atual mente do leão.