PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 Ao quarto jogo, o losango explodiu de tanto querer engordar.
Em termos de geometria dos movimentos táticos, tal pode ser explicado pela forma como Otavio e Pepê quiseram estar ao mesmo tempo em todo o lado (mais do que trocas posicionais, sobrepuseram-se nos espaços centrais de marcação vila-condense), por onde também chegava Bruno Costa, enquanto Taremi procurava como fugir a essa explosão demográfica central caindo para a esquerda. A nº 9, Evanilson perdeu o que sempre teve: bons passes. Nas faixas, os laterais abriram e subiram o máximo mas não voltavam a tempo. A geometria de traços táticos certos transformou-se em rabiscos de caos.
Já em Vizela, lembrou Conceição, isso sucedera mas a diferença é que, desta vez, enfrentou um adversário que, embora em igual sistema, distinto no veloz e calculadamente mortífero contra-ataque. Gosto muito de Aziz porque não faz barulho e move-se como deve. É o assaltante perfeito para entrar numa casa durante uma noite em que os donos deixaram todas as portas encostadas. Esses donos de casa eram a estrutura defensiva portista. O contra-ataque existe pela vida que o adversário lhe pode dar quando se desequilibra. Sem isso, com ele sempre equilibrado pós-perda, nunca poderia existir.
O 3x4x2x1 de Freire (que baixa bem a cinco) sabe disso, mas também sabe como o... provocar. É através da tal rápida saída após recuperação, esticando nos avançados de velocidade e instinto. Nessa dinâmica, Ronaldo é, do berço vila-condense, a melhor inovação deste campeonato até agora. Sabe acelerar e sabe travar e passar.
2 Não sei em quantas mais posições estará Amorim a pensar que Pedro Gonçalves pode jogar. Ele é o melhor avançado e o melhor médio da equipa, mas é humanamente impossível (sobretudo num sistema de apenas dois médios de raiz) ser as duas coisas ao mesmo tempo na estrutura.
A sua colocação a nº 8 denunciou a principal preocupação de Amorim sobre o sistema, mas mantendo este inalterável o problema permanece e, como causa-efeito, aumentou no ataque. Imaginei que o melhor nesta fase seria, efetivamente, Pote recuar para médio, mas num meio-campo a três (5x3x2 que ataca em 3x4x1x2). Sem mexer na estrutura, a famosa dinâmica é um mito porque não tem as referências certas por onde deve correr.
O Chaves soube aguentar e esperar o seu momento no jogo. A defender a maior parte do tempo em bloco baixo, emerge Steven Vitória. Cresce nesses metros quadrados e tira tudo até ir à frente e, também de cabeça, fazer o golo que virou o curso do jogo de pernas para o ar. Outro assalto, este de suprema ironia por, copiando traços iguais, ter roubado essa figura de estilo de decisão a Coates na sua própria casa.
No trilho de Bobsin
O Santa Clara busca bases para o onze. Do jogo de Famalicão, fiquei com ideia que elas poderão estar mais nas alterações que Mário Silva foi fazendo do que no plano inicial. Gostei de ver de Adriano a pivô com passe de saída, soltando as subidas do, claramente, melhor jogador do onze: Bobsin, médio agressivo nos espaços, leitura de jogo antecipada e saída com técnica. Não parece equipa para jogar com médio-centro fixo, onde senti Bruno Almeida fora da sua posição (que é desde a faixa direita). Allano não é um jogador fácil, mas nenhum defesa deve gostar de jogar contra ele. Parece zangado com o mundo mas, por vezes, mostra essa revolta nos termos certos.
No polo oposto, o Casa Pia. Quatro jogos, sempre o mesmo onze. Uma solidificação de jogadores, estrutura e princípios que voltou a ver-se em Guimarães, num 3x4x3 que se esconde numa espécie de 5x3x2, onde Kunimoto voltou a ser a chave de transformação, sendo o falso-ala que pega por dentro a equilibrar ou lançar o ataque, onde também surge bem. Uma equipa que já começa a jogar de memória, afinada por Felipe Martins. Gere bem os seus ritmos de jogo e nunca perde as referências atrás da linha da bola, em organização defensiva (aguentou, sofrendo, toda segunda parte em 5x4x1). O princípio de segurança ideal.