PASSE DE LETRA - Opinião de Miguel Pedro
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Os recentes jogos de Braga e Benfica, para a Liga Portuguesa, e FC Porto, para a Champions, com golos marcados para além do tempo de desconto indicado pelos árbitros, levantaram, mais uma vez, a questão do tempo útil de jogo.
Revisitando as estatísticas sobre o assunto, concluímos que este é, certamente, um problema do futebol moderno. No site da LPFP, há mesmo um banner dedicado, com a designação #Não Pára-Tempo Útil, que tem informação sobre o assunto.
A conclusão deixa-nos surpreendidos: o jogo com mais tempo útil até à data, na Liga Portuguesa, o Sporting-Rio Ave (2ª jornada), teve, ainda assim, cerca de 30 minutos de tempo em que o jogo esteve parado, ou seja, não se jogou durante meia hora. No resto dos jogos, é sempre a piorar.
Mas o problema não é exclusivo do nosso campeonato. Num recente estudo do CIES, relativo à época de 2018/19, e de 36 ligas europeias analisadas, a liga neerlandesa foi a que teve melhores resultados: 63 minutos e 21 segundos de média de tempo útil de jogo. Portugal foi a 31ª liga, um resultado que nos pode envergonhar, com 57 minutos e 9 segundos de tempo útil de jogo (média).
Daqui resulta que os descontos (que até deveriam, face a estas estatísticas, ser maiores, de 15 ou 20 minutos) são uma espécie de penso rápido, uma medida pouco eficaz para combater o desperdício de tempo.
Na conferência "Football Talks", o treinador Rui Vitória teceu uma visão romântica sobre o assunto, defendendo que nem os descontos, nem a doutrina do "tempo útil" (fazer como no basquete, em que cada paragem de jogo implica paragem do cronómetro) são a solução para encurtarmos o tempo de desperdício, a qual deve passar por uma pedagogia dos intervenientes para as vantagens de um jogo fluído e sem paragens. Os árbitros têm a tendência para, no período que concedem de descontos, utilizar a técnica do "tempo útil", parando o seu relógio a cada interrupção do jogo.
O João Miguel Fernandes, que por vezes partilha comigo este espaço de texto, tem o seu espírito analítico atento a estas coisas e foi fazer as contas ao jogo Braga-VSC: "entre 89"48"" e 91"28"" (durante 1"40") não houve jogo. O lance a seguir em que o André Castro teve que ser assistido aconteceu entre 90+5"15"" e 90+6"30"" ( mais 1"15" sem jogo). No total, foram 2"55" sem jogar", concluindo, assim, que o golo bracarense aconteceu dentro dos 5" de tempo útil de jogo concedidos pelo árbitro para descontos.