VELUDO AZUL - Um artigo de opinião de Miguel Guedes.
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Bem podemos tentar diminuir a dimensão do romance, tolher-lhe as asas, fazer de conta que 45 minutos bastam para soltar todo o fogo do Dragão e domesticar o adversário.
As histórias, no futebol moderno, já não se contam assim. Quem não mantém a paixão pelo jogo durante os 90 minutos, ainda que folheie o livro do jogo com todas as letras e pontuação durante uma das partes, corre sérios riscos de não se reconhecer no final, de não se ver bem no seu fim.
À semelhança do que aconteceu na jornada inaugural frente ao Belenenses SAD, o regresso ao Dragão frente ao Arouca foi o reencontro com um jogo a tempo inteiro. Como tem que ser.
Depois do empate no agora interdito Estádio dos Barreiros, antes da pausa para os compromissos da Seleção Nacional (e feita justiça para Otávio, finalmente) e na antecâmara da preparação do jogo em Alvalade, era absolutamente fundamental reconstituir e fundar a confiança da equipa, integrar jogadores e, porventura, cimentar despedidas. Assim foi.
O 11 inicial não sofreu alterações em relação ao jogo com o Marítimo, o que acentuou a ideia de que Marcano será dono do lugar até que Wendell se integre por inteiro (e teve direito a alguns minutos). O golo do central foi mais do que merecido prémio para um jogador tão martirizado num longo afastamento por lesão. A titularidade de Uribe em detrimento de Sérgio Oliveira e o facto de este não ter sido chamado para render Bruno Costa (foi Vitinha a entrar aos 60"), indiciam que o mercado pode mesmo mexer, pese embora Sérgio Conceição realçar o momento de forma menos bom do médio-goleador da época transacta. A não convocação de Corona indica a saída e o "castigo" pelo seu fora-de-jogo permanente no Funchal. A vitória, no topo do bolo, indiscutível, com Taremi a regressar aos golos.
Saberemos hoje se o Benfica escorregará, à semelhança de todos os outros candidatos ao título, neste início de campeonato. Mais cedo ou mais tarde, todos desperdiçarão pontos e ficará sempre a sensação de que podem ser decisivos para as contas finais. FC Porto, Sporting e Braga já desceram à terra. Veremos quanto tempo insufla o balão.
Nada a t(r)emer
Temer não é um estado de alma. A dúvida que os grandes embates convocam são, para os campeões, a forja das grandes vitórias. Dizer que um grupo com Atlético de Madrid, Liverpool e AC Milan é um manjar dos deuses para a probabilidade de passagem da fase de grupos aos 1/8 de final da Liga dos Campeões é abusar da sorte (que foi nenhuma no sorteio de quinta-feira passada). Mas será, certamente, uma mesa posta para quem gosta de ver grande futebol e uma enorme oportunidade para quem o quiser jogar. E à equipa do FC Porto, à responsabilidade de quem a treina e dirige, à bravura dos seus jogadores, compete confirmar porque tem sido o grande colosso europeu que não joga no "Big 5" das Ligas espanhola, alemã, italiana, francesa e inglesa. Um bom resultado no primeiro jogo em Madrid pode ser mais um tónico europeu de confiança. Servido a este grupo de jogadores, alguns muito jovens e outros em processo de adaptação, moldará boa parte deste arranque de época. Os campeões devem pôr-se sempre a jeito se querem fazer História. Nada a temer, porque tremer?