PASSE DE LETRA - Um artigo de opinião de Miguel Pedro.
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1 O forte desenvolvimento das ciências cognitivas e da psicologia cognitiva, principalmente a partir da década de 80 do século passado, veio dar uma verdadeira resposta científica aos comportamentos mentais anómalos, que passaram a configurar verdadeiras "doenças mentais", uma vez que - sabe-se hoje - tais estados não resultam de nenhuma "força sobrenatural" ou de uma "substância mental etérea", mas sim de distúrbios fisiológicos, de deficits entre comunicações sinápticas cerebrais, provocadas por estados químicos e elétricos do nosso cérebro.
Assim, doenças mentais como o "distúrbio bipolar", caracterizado por alterações profundas de humor, onde o doente passa repentinamente de períodos de profunda depressão para períodos de grande energia e euforia, têm uma causa fisiológica (deficiente regulação de neurotransmissores).
Vem esta introdução a propósito das últimas atuações do SC Braga: ora vemos uma equipa tolhida e deprimida, como no jogo contra o Sporting, ora vemos uma equipa cheia de boa energia e eufórica, como nos jogos contra o Benfica ou na goleada ao Santa Clara. Mas ter alterações de humor no mesmo jogo, isso é coisa rara: contra o rival geográfico, passámos da depressão à euforia em menos de 60 minutos. É certo que ao longo da segunda parte desse jogo a energia foi crescendo, contaminando lentamente as bancadas, que também se foram animando e, perante um Vitória esgotado, foi atingido um clímax eufórico em apenas cinco minutos, permitindo a jogadores e adeptos um festejo catártico, perante um rival que deu tudo e - sejamos justos - se vencesse também mereceria. Interessará, agora, perceber quais os motivos para a mesma equipa ter comportamentos tão díspares, em termos de energia, pressão, foco no jogo e mesmo acuidade técnica dos jogadores. É certo que sempre que se ganha estas questões parecem irrelevantes. Mas não são e estou confiante que Artur Jorge e a equipa estará precisamente a fazer essa análise.
2 Ontem foi um jogo de ressaca. Uma ressaca depois de um jogo intenso, física e emocionalmente, como foi o da eliminatória da Taça, e ainda por cima contra o Boavista, uma equipa muito difícil, aguerrida e competitiva. O Braga, com pouco tempo de recuperação, manteve o rendimento de vitória e isso é o mais importante. Alguns jogadores mostraram o desgaste, que é natural, mas entregaram-se sempre ao jogo, sem restrições. E estas vitória, sofridas e num contexto de recuperação, e que valem os mesmos pontos que todas as vitórias, são muito importantes no contexto de uma prova de longa duração, como é o campeonato. Seguimos para bingo...