VELUDO AZUL - Um artigo de opinião de Miguel Guedes.
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O caso do camarote do Estádio da Luz, onde o presidente Pinto da Costa gravou um depoimento para série "Ironias do Destino", é um episódio maior da realidade alternativa que, tantas vezes, o FC Porto acusou o Benfica de defender sem qualquer noção de pudor, enquanto clube que sequestrava o Estado e os mais distintos poderes, ajoelhados ao serviço da sua grandeza e influência construída a pulsação de polvo.
Se John Textor, o magnata americano que declara o seu amor incondicional pelo Benfica ao sabor de 25% das suas acções, é considerado um guru da realidade virtual, que ninguém duvide que chegou ao clube certo no momento exacto.
Foi preciso ver para crer. Se nos dissessem que Pinto da Costa estaria num camarote do Estádio da Luz a gravar uma série para o Porto Canal, a convite de Luís Filipe Vieira e com a porta aberta por Domingos Soares de Oliveira, ninguém acreditaria. Ainda há quem se belisque e quem, em negação, não aceite. Se o Rei dos Frangos já tivesse mesmo vendido a sua parte ao milionário dos efeitos especiais, juraríamos ser um holograma.
As razões que levaram a que tal sucedesse a 6 de Maio, a poucas horas do pontapé de saída para o clássico onde ainda se decidia o acesso directo à Liga dos Campeões, num contexto de ausência de relações institucionais entre os dois clubes, após anos a fio de uma fractura exposta que abalou os alicerces do futebol português, podem ser menos pagãs do que se julga. A fé opera milagres mas ninguém acredita que, para os adeptos, este fosse um episódio normal e ordinário, que passasse entre os pingos da chuva como, naquele mesmo estádio, um campeonato passou pelos pingos da rega.
Para boa parte do portismo, há quem gabe a ousadia e considere que Pinto da Costa deu uma goleada das antigas, directamente do camarote, e com alta nota artística. Para outros, este episódio foi incompreensível e, no mínimo, desnecessário. Mas para o benfiquismo, é unânime: não há qualquer razoabilidade que sustente a "profanação" da Catedral e, convenhamos, cairia o Carmo e a Trindade se tal sucedesse no Dragão. O facto de Luís Filipe Vieira estar em prisão domiciliária no momento em que este episódio de "Ironias do Destino" é emitido, só adensa o sarcasmo. Esqueçam Textor e o seu muito merecido Oscar por "Titanic". O verdadeiro guru da realidade virtual é Pinto da Costa e vai a fundo. Que momento para se estar vivo e livre, dirão muitos.