VELUDO AZUL - Opinião de Miguel Guedes
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Comecemos pelo fim. Um minuto para os 90´ e todo o sofrimento que virou alívio com o empate de Luis Díaz está agora transformado em esperança nos três pontos. Afinal, ainda é possível. Mas qual a probabilidade disso acontecer?
No pensamento, as ligações murmuradas sucedem-se a cada respiração entrecortada: "saímos para o intervalo a perder por 2-0 e conseguimos o empate", "estatisticamente será improvável marcar mais um", "estivemos a perder até aos 84", "estas remontadas são raras", "logo agora que o Sporting perdeu ontem", "menos mal, somamos um ponto depois daquela meia primeira parte em que quase saímos do jogo".
Sim, quase saímos do jogo com um lance indefensável de má fortuna e outro do já habitual apagão mental, com dois jogadores a serem corpos estranhamente estranhos à equipa e um Estoril mais do que competente e recuperado das vicissitudes pandémicas que foram, afinal, bem ligeiras atentando à forma como jogaram no limite, disputaram cada lance e correram quilómetros em verde relva. Bela equipa, diga-se, felizmente a respirar saúde.
Um minuto para os 90´, diálogo com ambos ainda no meio campo, jogadores da formação. Fábio Vieira coloca uma magistral bola longa para Luis Díaz e dispara para Francisco Conceição o premonitório "Vai, que tu vais fazer golo!". A correria. A bola já nos pés de Luis Díaz, o mestre colombiano a fazer o que só ele sabe fazer na Liga portuguesa. Cruzamento. Francisco, vindo de trás como uma bala, na passada, fuzila com o pé esquerdo para o terceiro golo. A bola entra na baliza e salta cá para fora, parece não querer lá ficar tal o tamanho da explosão.
Logo depois, no banco do FC Porto, o que se viu entre todos mas sobretudo entre pai e filho, este que, depois de marcar, fintou como pôde meia equipa porque só tinha olhos para a vontade de encontrar o abraço do seu treinador paterno. Nas bancadas, a loucura. Em casa de cada portista, a comoção, a gritaria do júbilo e o sabor frenético da intensa alegria. A ambição, o nunca desistir, a atitude competitiva, o querer até ao limite. Insistir. Acreditar.
Estas vitórias, vitórias como esta, vitórias assim, podem ganhar campeonatos. O Estoril fez um grande jogo, superou todas as dificuldades e até fez parecer um "bluff" todo o legítimo drama regulamentar alimentado durante a semana. Extraordinário jogo dos homens da linha. O FC Porto fez muito bons primeiros 20 minutos e uma segunda parte que, naquele contexto e com este adversário, não é para todos. Sérgio Conceição ganha o jogo ao abdicar de um central (Fábio Cardoso) para colocar Francisco Conceição aos 87", logo após o empate, mostrando o caminho à equipa. Caminho que foi destino. Porque, escreve-se aqui com a propriedade da urgência, o nosso destino é vencer.
Não há intensidade no cotovelo
Para atiçar uma polémica conveniente, dá jeito ter os factos do lado de quem semeia o fogo. No lance do golo anulado ao Estoril, pode duvidar-se da intensidade do empurrão a Evanilson (porque o empurrão, esse, é indiscutível) mas não pode alimentar-se a descumunal cegueira de não querer ver que Taremi leva uma cotovelada na cara. Ver o lance, ter dúvidas sobre a intensidade do empurrão a Evanilson e não ver a forma como Taremi é atingido antes de Rui Fonte cabecear, é apenas desonestidade ou demasiada incompetência.