FOLHA SECA -Opinião de Carlos Tê
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A época começa com mais sinais de quebra de capacidade competitiva entre as nossas equipas e as europeias. A eliminação do Vitória por uns modestos eslovenos parece indiciar um afastamento, algo que o recuo no ranking da UEFA tem vindo a confirmar. O Celje podia ter sido goleado na primeira mão da Liga Conferência, mas fez um segundo jogo em Guimarães pleno de força e querer, apesar de ser inferior.
O mesmo aconteceu entre o Arouca e os noruegueses do Brann, com um resultado positivo mas apertado. Do quarto lugar para baixo, dir-se-ia que a Liga portuguesa está na terceira divisão europeia, mesmo sendo o Guimarães o quarto grande em termos de adeptos, já que o Braga o é em termos futebolísticos, faltando assegurar a presença na Champions, para já bem encaminhada.
O historial de Godinho requeria uma abordagem mais avisada e astuciosa e não um passo para o abismo. Ou se aceitam as regras do jogo, incluindo árbitros duvidosos, ou será penoso
No domingo passado, a Supertaça entre City e Arsenal deu um despique intenso e incerto. Mau grado a ida de bons jogadores para periferias abastadas e sem pergaminhos, os grandes clubes ingleses mantêm o poder de recrutar a nata sul-americana e europeia, reforçando a posição de mandachuvas na UEFA - uma supremacia que só o Real Madrid pode contrariar.
Em Aveiro, a nossa Supertaça foi um embate antecedido por trapalhadas jurídicas mas vivinho na relva, como é da praxe, pois o que está em jogo é a rivalidade e nunca apenas o troféu em disputa. O perfil das equipas é o mesmo, apesar da indefinição resultante dum mercado de transferências à vontade do freguês. Conceição manteve a estrutura, até porque ninguém chegou com peso para ascender à titularidade, mas premiou Namaso pelo golo ao Rayo Vallecano. Os reforços arrastaram-se em negociações e falta saber como encaixarão, embora o futebol seja simples e haja sempre espaço para quem faz a diferença. Daí que um meio-campo sem o polvo pendular que era Uribe seja sinónimo dum futebol aplicado mas com menos rasgo e acerto, como se viu pelos passes falhados e perdas de bola de Eustáquio e Grujic, quando Schmidt emendou a mão depois de sobreviver à inépcia finalizadora portista. A mudança táctica pôs a nu as calosidades técnicas do Porto quando tem menos espaço e tempo para pensar. A equipa desuniu-se e perdeu o norte, comprovando ser o principal inimigo de si mesmo, com Conceição a protagonizar a primeira rábula da temporada no primeiro jogo a sério, fazendo as delícias dos adversários. O historial de Godinho requeria uma abordagem mais avisada e astuciosa e não um passo para o abismo. Ou se aceitam as regras do jogo, o que inclui árbitros duvidosos, ou então será penoso.
O Benfica, com mais saúde financeira, apresentou reforços sem destaque, exceptuando Di María, que pode ser velho para Itália mas útil para cá, pois marcou na primeira oportunidade que teve. Aos trinta e cinco anos, fez o que Galeno não foi capaz de fazer, e provavelmente nunca será.
O campeonato segue dentro de momentos, mas o Porto, por culpa própria, deu oxigénio extra ao Benfica, e desta vez em confronto directo. Falta ver o que ambos farão na Champions. O ranking está tremido.