A JOGAR FORA - Uma opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - "Era a mesma coisa empatar ou ganhar por cinco" - assim começou Fernando Santos a cavar, logo ali a quente na fria Irlanda, a derrota com a Sérvia.
O costumeiro pragmatismo do selecionador nacional devia ser capaz de atentar na longa história da modalidade, que transborda de exemplos de equipas a quem a calculadora indica a suficiência de um empate e depois são agraciadas no terreno de jogo com uma derrota - um castigo frequentemente servido a frio, nos minutos finais, quando já nada pode ser feito para emendar a insensatez tática colocada em campo.
2 - Via de regra, um treinador faz trabalho digno de aplauso quando a equipa vale mais do que o somatório dos jogadores que a compõem, faz trabalho mediano quando as coisas se equivalem e está a mais no cargo quando o todo vale menos do que as partes. Basta acompanhar semanalmente a prestação dos nossos craques por esses palcos europeus fora para se perceber onde está o problema da nossa seleção. "Saio se não formos ao Mundial", disse o selecionador, para sossegar a nação, no feroz interrogatório a que se sujeitou esta semana na TVI. Permito-me discordar: aí chegados, senhor engenheiro, já será tarde de mais.
3 - O jogo com o P. Ferreira foi uma espécie de jogo com o Bayern às avessas: o Benfica dominou claramente, foi criando e desperdiçando ocasiões de golo, permitiu umas investidas esforçadas ao adversário (sofrendo um golo que criou a ilusão de que a eliminatória estava em perigo) e assim que marcou o primeiro foi o que se sabe - o Ketchup soltou-se de dentro do frasco. Mais cedo eu reclamava aqui por goleadas à maneira das do Bayern, mais cedo elas tinham aparecido.
Espero que Jorge Jesus não jogue [em Barcelona] para o traiçoeiro empate
4 - Terça-feira estarei pela enésima vez em Barcelona e pela segunda para ver o Benfica no Nou Camp. Na primeira, em 1992, com a cidade em estaleiro para daí a três meses receber os Jogos Olímpicos, o Benfica teve pela frente a "impossível" missão de vencer os catalães para se chegar às "meias" da primeira edição da Liga dos Campeões. Perdeu pela margem mínima para os futuros campeões europeus, mas foi impotente, claramente impotente, para ameaçar o "dream team" de Johan Cruijff (onde pontificavam Zubizarreta, Koeman, Guardiola, Stoichkov, Laudrup, etc.). Afigurando-se a tarefa um pouco menos "impossível" desta vez, desejo que Jorge Jesus não jogue para o traiçoeiro empate - que, não obstante, a concretizar-se, deixará as hipóteses de apuramento em aberto para a última jornada: será necessário vencer o Dínamo de Kiev, na Luz, e esperar que o Barça não vença em Munique.
5 - Eles são os desentendimentos entre Otamendi e Jesus, a contratação de um futuro treinador (Pepa) já em marcha, o empresário de Darwin cheio de propostas milionárias, a falta de compromisso do Rafa para com a seleção (leu bem, do Rafa para com a seleção!), é o Benfica metido a martelo no meio de uma peça de investigação ("Testa de Ferro", SIC) que mais se parece com jornalismo de especulação, enfim, somos pau para todas as obras - da luta desenfreada pelas audiências aos problemas que urgem ser disfarçados ou escondidos. Enquanto isso, os nossos rivais internos passeiam-se numa espécie de paraíso na terra. Não há como não concluir: o Benfica não é grande, o Benfica é enorme!