A opinião do jornalista Carlos Flórido
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A minha primeira memória da Senhora da Graça é inesquecível. Estreei-me a acompanhar o ciclismo no ano em que Joaquim Gomes lá tirou a camisola amarela a Cássio Freitas, para vencer a seguir a Volta a Portugal no Porto, e recordo uma montanha coberta de verde, com um asfalto tão gasto que mais parecia empedrado e gente, muita gente. Em algumas zonas os entusiastas eram tantos e chegavam-se de tal forma aos carros que o meu receio era atropelarmos alguém.
Daí para cá quase tudo mudou. Os incêndios terminaram com a aparência fresca e verdejante, uma aposta falhada da câmara de Mondim de Basto no automobilismo transformou a estrada numa pista e a subida foi perdendo público, por vários motivos. Desde a quebra de importância da Volta, nesses anos um acontecimento que cativava todas as atenções do país e nem sequer tinha a concorrência do futebol - em agosto limitado a treinos -, até às imposições de segurança dos novos tempos, que levaram a fechar os acessos à subida cada vez mais cedo, quase restringindo os espectadores aos corajosos que lá passam a noite. Esta opção, a de fechar cedo a estrada, é discutível há demasiados anos.
A Senhora da Graça, que tem tudo para ser a grande festa popular de decisão da Volta, precisa não só que se abram os acessos como de chamar as pessoas para as suas encostas, não afastá-las com a obrigação de subir sete quilómetros a pé.