PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 Existem várias formas de analisar o que é "jogar como uma equipa grande". Não o avalio só pela postura ofensiva dominadora em vez de expectativa e saída rápida.
Isso podem ser meras estratégias que pouco podem ter a ver como o modelo de jogo (entenda-se identidade) da equipa.
Um dos fatores que mais relevo é ver as linhas juntas quando não tem a bola e setor defensivo (defesas) e meio-campo (médios) avançarem em bloco (sincronizado) na marcação (e pressão que, com esse comportamento, se torna alta). O oposto é quando, em vez disso, os defesas (linha defensiva) ficam desconectados do meio-campo e deixam um espaço demasiado grande entre os dois setores (é o chamado espaço entr elinhas, que se o adversário meter jogadores libertos nele desequilibra toda estrutura).
2 Em sistemas diferentes, os quatro primeiros do nosso campeonato têm, por princípio, esta identidade de jogo de colocação e comportamento do bloco. Mesmo com armas (jogadores) diferentes, Schmidt, Conceição, Artur Jorge e Amorim potenciam essa ideia macro de bloco-pressão-jogo. As mudanças táticas quando acontecem visam, essencialmente, impedir o partir dessa ligação quando sentem que ela esta a distanciar-se mais do que devia. O Braga passou a adotar, em vários jogos ou no seu decorrer, o 4x3x3 (o terceiro médio que incrementou o duplo pivô) muito por isso. Quem segue Conceição no banco durante 90 minutos vê como ele nunca pára de dar ordens/indicações, mas sobretudo para o posicionamento (ofensivo) da linha... defensiva. Relaciono, por exemplo, a demora da entrada de Fábio Cardoso no onze titular mais com isso do que com qualquer dúvida sobre o valor do jogador.
3 Onde se sente maior sensibilidade tática neste ponto é no Sporting mas tal é natural, não só pela especificidade dum sistema muito diferente (3x4x2x1) e por, na fundação da ideia-Amorim, estar uma ideia mais de bloco médio do que alto pressionante. Foi campeão assim, com as linhas defesa e meio-campo sempre muito juntas, mas com o passar das épocas, a saída pelo meio tornou-se mais difícil e, consequentemente, o bloco baixa um pouco. Neste caso, para as linhas mais recuadas continuarem juntas, aumenta é a distância entre linhas do meio-campo para o ataque. Por isso, a importância da procura dum nº8 que faça essa ligação e volte a permitir a equipa subir uns metros como Amorim quis na evolução da sua ideia de jogo após a época do título. A outra solução é, claro, um jogador marcar um golo do meio-campo, e, de repente, tudo é outra vez mágico pela varinha de condão de técnica de Pote.
A combinação mais difícil é, porém, sempre comum a todos e vem da "tese da manta curta". Considero, porém, que é sempre ser possível melhorar o ataque sem piorar a defesa. Em qualquer equipa.
A primeira conferência da formação
Não duvido que a atração pelo futebol é o talento dos jogadores. Falei nisso na I Conferência do jornal O JOGO após várias intervenções a ouvir falar sobre formação a partir de estruturas, disciplina, investimento, etc.
No fundo, só quis devolver o tema (e o futebol) à sua base. Porque mesmo a formação não é um início mas sim um meio para perceber, lapidar e potenciar (resisti a escrever trabalhar) o crescer e saber utilizar desse talento que já existe no miúdo jogador antes de ele entrar na fábrica de formação que muitas vezes se torna de formatação em muitos clubes que, desde o primeiro dia, bombardeiam esse talento com tantas regras a seguir (quando o que ele precisa é apenas o balizamento certo para ser livre para... crescer).
Adoro a frase que diz "erre muito, erre cada vez mais, erre até à perfeição do erro (não é contradição), até perceber como fazer certo". Há talentos que jogam muito e tiram negativas na escola e outros que tiram 20. Pouco me importa. O talento (os miúdos) é irreverente. O que me importa são os valores de vida e respeito que têm de ter porque o futebol (como a vida em sociedade) é uma existência coletiva. E hoje, falando só de futebol, cada vez mais a técnica individual e a coletiva é tão importante como habilidade e imaginação.