PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 O volume ofensivo é muito, mas mesmo com a bola perto da baliza, já na área, poucos jogadores sentem que é o momento ideal de finalizar a jogada.
É esta sensação que passa muitos ataques do Sporting. Contra o Rio Ave fechado, o último passe até entrava várias vezes, mas rapidamente deixava de o ser porque o remate não surgia a seguir.
Existiam, claro, as tentativas de Pote, mas foi quando a bola entrou na profundidade em Chermiti (isto é, metendo a bola a rolar à sua frente e não obrigando-o a recebê-la de costas como é habitual para o nº9 no sistema de Amorim) que, por fim, a equipa virou-se de forma certa para o golo (o último elo de ligação do jogo).
É importante Chermiti conhecer todas as nuances de posicionamento e movimentações, mas sem respeitarem essa forma de o servir, é como inverter os apoios certos para o jogo que se sente ser o deste leãozinho a nascer: bola no espaço, na sua frente, e não no pé, de costas.
2 O Braga desbloqueou o resultado perto do fim quando Artur Jorge foi à "mina" do banco e lançou Bruma. Ao mesmo tempo, Pizzi também entrou bem, dinamizando o meio-campo a ligar com o ataque, surgindo no espaço certo para dar de calcanhar o último passe para golo.
Vendo o impacto tão rápido que Bruma teve no jogo, a pergunta é inevitável, porque há várias épocas que, após prometer muito, ele fugiu do nosso radar para longe dos caminhos de craque consolidado: o que ainda pode ser aos 28 anos? Muita coisa, penso.
Será difícil retomar o tal trilho perdido no local de progressão onde estava (os anos passam rápido), mas pode resgatar muitas das suas jogadas-tipo: criatividade a assumir ir para cima do defesa com bola e oportunismo a aparecer na área para o golo. Neste Braga, numa dinâmica desde a ala (alternando, talvez, com Iuri Medeiros). Mesmo sem consistência exibicional (que nunca teve) pode ser um fator diferenciador quando entrar bem.
3 Não tem sido fácil para Bah soltar toda a sua qualidade no Benfica, onde cada vez mais lhe exigem mais velocidade nas transições a atacar e a recuar para defender que não estava habituado no Slavia.
Ou seja, vê-se como sabe jogar a atacar e como sabe posicionar-se a defender, o problema está mesmo, subindo o nível e velocidade da exigência competitiva, entre um momento e outo: as chamadas transições.
No caso de Bah, no jogar atual do Benfica sem extremos e com laterais a dar profundidade ofensiva, o problema mais sensível está mesmo na transição defensiva. Ser mais rápido a recuperar posição e nesse percurso de recuo ter, como referência principal, o espaço como chave a ocupar e não a bola como objetivo a recuperar (isso é depois de estar, finda a transição, no sítio certo da organização defensiva).
O terceiro médio: Boavista e Marítimo
O Boavista continua a enriquecer-se taticamente. Após o sistema preferencial de "defesa a 3" e as variantes do 4x4x2 e 4x2x3x1, estabilizou agora num 4x3x3 que assenta apenas num pivô defensivo (Seba Perez ou Vukotic, no jogo nos Açores com Seba castigado) e dois interiores subidos, Makouta-Ibrahima (ou Vukotic). Antes nas faixas com o veloz Salvador Agra, rotina Mangas como ala de diagonais na direita e Yusupha a "9 solto". É, porém, com o criar do trio do meio-campo (no fundo com a introdução de um terceiro médio puro) que a equipa tornou-se um bloco mais coeso no setor intermediário e permite jogar atrás com uma "linha de 4" sem nunca perder cobertura, a toda a largura, a controlar a profundidade.
É um pouco o que penso faltar ao Marítimo de José Gomes nos jogos fora: isto é, jogando, com intensidade competitiva, em 4x4x2 (ou 4x4x1x1) nos jogos em casa, também precisa de um 4x3x3 nos
jogos fora, com o terceiro médio que lhe permita entrar com mais ligação entre setores. No fundo ter os jogadores mais juntos no momento defensivo ou de perda para manter-se coeso atrás da linha da bola. A forma pouco pressionante competitivamente e agressiva - em termos defensivos - como entrou em Vizela e Chaves mostrou essa carência de ocupação de espaços de raiz no sistema sem bola.