PLANETA DO FUTEBOL - Uma análise de Luís Freitas Lobo
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1 - Existe a tentação de ver cada jogo como uma sentença na qual as equipas avançam ou recuam no que verdadeiramente valem. Nessa alucinação, há 90 minutos especiais que fazem esses estilhaços de avaliação terem mais força.
Planos de jogo: enquanto Conceição busca disfarces, Amorim busca fotocópias
FC Porto e Sporting chegam de formas semelhantes ao primeiro clássico da época. Enquanto Conceição fugiu mascarado de losango ao vazio deixado pela saída de Vitinha (e a falta de um jogador dentro do seu estilo), não é tanto de suspeitar que Amorim busque também um disfarce tático para colmatar a saída dum exemplar posicionalmente semelhante: Matheus Nunes. Este paralelo, por tão próximo no perfil individual de n º8 construtivo de saída e condução de bola, mas tão distante nos respetivos tratamentos coletivos, fazem problemas aparentemente iguais tenham enquadramentos muito diferentes.
2 - Não se trata só de poder vislumbrar em Ugarte um substituto taticamente natural para Matheus Nunes, mas sim das ideias de jogo que cada um maneja serem muito diferentes. Até na forma de reagir a este tipo de contrariedades. Se Conceição não hesita em redesenhar todo o sistema, mudando a partir dum posição todas as outras (ou seu princípios de movimentação), Amorim, por sua vez, procura, em primeira instância, recriar uma fotocópia tática do seu jogo para o coletivo não perder as referências adquiridas de jogar (resistindo a mudar sistema e tais dinâmicas de movimentação).
Por isso, vejo o problema da saída de Matheus com efeitos táticos deflagrados mais em... outra posição, a de nº 6 pivô. Parece estranho, mas é assim e em Braga isso já se viu. Os tão debatidos problemas defensivos nasceram mais nesse local do que na linha recuada. Ou seja, para Ugarte subir para nº 8 é necessário criar outro nº 6, que, sendo Morita, não tem as mesmas valências táticas no momento defensivo (equilíbrio, sentido posicional e pressão) que os antecessores.
3 - A rotina de um sistema cria automatismos que faz a equipa jogar de olhos fechados, mas tem sempre o risco de cristalização de princípios para os jogadores. O Sporting já sentiu estas duas faces da mesma moeda tática. Mais difícil, porém, torna-se quando lhe tiram um desses elementos-chave em plena competição. Não acreditando em mudanças de sistema, acredito mais em mudanças de planos para cada jogador. Neste caso, Ugarte voltar a ser "6" e fazer crescer Morita como "8". É, num primeiro olhar, mais natural e seguro na organização defensiva embora perca na profundidade da transição ofensiva.
Seja em losango ou numa versão reciclada do 4x3x3 "camelão", a reentrada de Otávio no centro da máquina tática portista é indispensável. Ele é o jogador supra sistemas, no sentido que tanto joga em vários sistemas como os transforma, por si só, em campo. Basta um movimento, muda uma posição e muda um sistema. Há poucos jogadores assim no futebol atual.
Nunca estiveram tão perto
O poder da posse é como um primado para perceber quem tem a iniciativa do jogo mas, tantas vezes, essa simples verificação estatística é um alçapão onde caem muitas equipas. Basta ver os grandes jogos e é fácil ver como está noutro momento, o da recuperação da bola, o mais importante para decidir o curso que eles podem tomar.
FC Porto e Sporting têm posturas diferentes para esse mesmo plano. A pressão alta portista, querendo logo sair a encurtar e roubar, e a postura mais de expectativa e roubar quando menos se espera, são definições talvez demasiado generalistas, mas caracterizam o que têm sido Conceição e Amorim em ambas as equipas. Só que as épocas avançam e as circunstâncias mudam.
Um jogo para ser mais decidido pela técnica do que pela tática
O bloco do Sporting está hoje mais subido, mas nem por isso mais pressionante por vocação (tal só mais por indicação) e o bloco portista está hoje mais junto, menos devoto do jogo esticado. Ou seja, nenhuma equipa quer um jogo partido" para sentir que assim o pode ganhar melhor.
Chegados a este ponto, mesmo continuando em sistemas tão diferentes, diria que nunca estiveram, em termos de estacionar o bloco, tão próximas. Pode não proporcionar "encaixe" mas torna mais difícil "desencaixar" pela simples ação tática. Ainda bem. Prevalece a decisão técnica do jogador.