PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo.
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1 Sem receio, Sérgio Conceição colocou mesmo nome próprio (o de Luis Díaz) ao problema que o FC Porto teve em atacar os espaços em profundidade contra o bloco fechado atrás do Arouca.
Conseguiu ganhar um pouco desse argumento que faz muito da sua ideia base de jogo ao meter Galeno e João Mário, mas percebe-se que, nessa constatação, estava a tal consciência de como tem de refazer o seu circuito preferencial de jogo.
Nesse contexto, cresce de importância o uso da outra velocidade, não meramente física, mas sim de circulação de bola e execução a nível de passe para saltar zonas de pressão. A forma como Vitinha e Fábio Vieira desbloquearam o resultado em ações desse estilo (remate após queimar linhas em rutura e cruzamento teleguiado) demonstra essa vertente tornada agora, por natureza, a mais dominadora do estilo ofensivo portista. Em síntese, o comprimento do seu jogo aumentou mas a largura, ao invés, diminuiu.
Pepê relaciona bem a faixa com zonas interiores mas não é um jogador que, quando aberto na largura, corresponde para dar essa profundidade "por fora". Evitar, assim, que a equipa fique demasiado dependente do "jogo interior" é um desafio que se coloca à referida perda da profundidade, questão que terá de ser reabilitada essencialmente através do reinventar do "jogo exterior" pelas faixas. As substituições feitas tiveram esse efeito (que antes só as subidas do lateral Zaidu estavam a dar).
2 No regresso ao 4x4x2, o Benfica encontrou em Tondela um território taticamente inóspito em termos de marcações no corredor central. Weigl pôde jogar sentado numa cadeira e, assim, a saída limpa desde trás deu à transição defesa-ataque encarnada um fluidez que não se via há muito, até chegar à frente e, na ausência do terceiro médio (perdido pela queda do 4x3x3 sem João Mário), surgir um avançado a recuar para jogar em apoios. A dimensão individual de Darwin amassou os defesas beirões e, desta forma, a equipa teve um jogo com paz interior como não sentia há muito.
Mesmo assim, está longe de se poder falar de uma retoma exibicional consistente. Bastaram alguns rasgos ofensivos tondelenses para se sentir, nos últimos 30 metros recuados, os erros de abordagem defensiva da linha de 4 benfiquista. Uma lacuna de coberturas (seja zonal ou individual) evidente além da descoordenação de alinhamento coletivo, na falta de vocação de Lázaro para jogar como lateral-direito. É um erro de "casting" para um jogador que é um bom ala ofensivo de origem mas a quem faltam bases de posicionamento defensivo como mostrou qualquer ataque do Tondela pelo seu lado (por onde Salvador Agra descobria sempre como lhe fugir). Além das mudanças de sistema, casos de desadaptação de identidade.
Está o Santa Clara mais físico?
Estou a gostar do crescimento de jogo do Santa Clara. Já se notara com o treinador interino Tiago Sousa e agora acentua-se com Mário Silva.
Em rigor, o onze-base não mudou mas subiu o bloco e o nível de intensidade no momento de reação à perda da bola. É, por isso, um crescimento que se deve mais ao upgrade de agressividade tática nos espaços sem bola do que às características dos jogadores.
A exceção é Cryzan, que, a partir duma faixa (para onde se desloca depois de ser um n.º 9), mete a dimensão física no jogo a aguentar a bola ou a enfrentar no choque, invadindo espaços e surgindo depois na tal sua zona central de finalização de origem. Fez assim o golo numa dinâmica que combina com Rui Costa, um n.º 9 mais de busca da profundidade e que interpreta muito bem as trocas posicionais com Cryzan.
Com Ricardinho mais culto, sem perder travessura, na outra ala, e, no meio-campo, a dupla feita por Morita a pegar desde trás e Lincoln a passar como quer a n.º 10 (com Anderson Carvalho, trinco-pivô, a guardar por trás) mostra complementaridade de características e interpretação certa dos diferentes momentos o jogo (reação à perda e técnica com visão em posse). Tudo num 4x3x3 equilibrado que mantém sempre a equipa organizada.