O jogo de Braga trouxe o fim do tabu sobre a continuidade de Veríssimo
A JOGAR FORA - Opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - Sempre que o Benfica joga na Liga, há duas coisas que são tão certas como termos andado dois anos aos papéis com uma pandemia: uma, a equipa apresentar-se sem raça, sem atitude competitiva, sem compromisso, como se, mesmo que conseguisse, não quisesse; outra, o árbitro cometer erros crassos, de palmatória, que nos roubam pontos com os quais, não é uma heresia afirmá-lo, estaríamos a lutar, no mínimo, pelo segundo lugar.
2 - Fiz parte - faz anos - de um alargado grupo de benfiquistas convidado para acompanhar Luís Filipe Vieira numa visita guiada ao Benfica Campus. Recordo, para além das fabulosas condições de trabalho que o clube oferece aos seus profissionais, o ex-presidente a explicar que "os jogadores só têm que se preocupar em jogar" - tudo o resto, subentendia-se do indisfarçado orgulho de Vieira, o clube tratava, o clube resolvia, o clube providenciava (até que fosse a dor de dentes de um filho ou o azarado furo num pneu do automóvel de luxo). Quem quer guerreiros - e quem não quer? - não os eleva à condição de príncipes, não os coloca nas alturas.
3 - Se o jogo de Braga nos ofereceu alguma coisa, essa coisa foi o fim do tabu à volta da continuidade de Nelson Veríssimo. Diz-se à boca cheia que o Benfica tem um outro treinador acertado para a próxima época - chame-se ele Roger Schmidt ou Schmidt Roger, que o anuncie de uma vez por todas. Entretanto, agradeço, e agradeço do mais fundo do coração, a disponibilidade, a seriedade, o profissionalismo e o benfiquismo de Veríssimo. Não é pouco, reconheço; mas é insuficiente, desgraçadamente insuficiente.
4 - Nós somos David, o pastor que não utiliza se não as suas modestas ferramentas para afrontar o gigante filisteu que dá pelo nome de Golias, aliás Liverpool, aliás a equipa que esta época visitou o Dragão e não fez a coisa por menos: arrasou, por inapeláveis 5-1, aquela que nos é continuadamente vendida como a mais intensa e competitiva equipa nacional. Acontece que o futebol é a única modalidade onde, como na bíblica história, um David pode vencer um Golias. E terça-feira - aposto dobrado! - os príncipes não vão meter o pé, vão meter, qual guerreiros, os pés todos.