PLANETA DO FUTEBOL - Uma análise de Luís Freitas Lobo
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1 - O adversário que se imaginava poder crescer um pouco voltou, afinal, a ser outra vez de cartão. O Luxemburgo, a partir duma linha defensiva de 5 (5x4x1), até entrou com ideias atacantes com a bola, mas bastaram alguns ataques-abanões de Portugal para desintegrar todos os posicionamentos da sua defesa.
O mais surpreendente foi que esse desposicionar não foi provocado, como era mais provável o onze luxemburguês esperar, através do jogo curto e associativo português (ao qual estaria preparado para contrariar) mas sim através de bolas longas metidas em diagonais na profundidade que deixaram sem reação (sem capacidade atacar a bola na sua trajetória) os seus cinco defesas.
Dessas três bolas, metidas a puxar sempre o poste mais distante, Nuno Mendes (primeiro, a ganhar em cima do lateral adversário e meter no meio), João Félix e Bernardo Silva (depois, como criativos crescidos para, entrando no espaço vazio, cabecearem entre defesas estáticos) apareceram três golos. Pouco depois, Félix roubou uma bola com que os luxemburgueses queriam sair a jogar e de repente Ronaldo parecia ter menos dez anos.
Em meia hora, quatro golos. O 3x4x3 português de bola em profundidade desfizera qualquer hipótese de ambição luxemburguesa. Otávio cumpriu como mais um baixinho a marcar de cabeça já com a explosão de Leão na esquerda, onde acho que Nuno Mendes vai ganhar o lugar a Guerreiro. Mas, sabem quem senti mesmo, no fim destes dois jogos, estar indiscutível para o modelo-Martínez? Palhinha.
2 - Do melhor período de Portugal (aquele em que foi necessário pegar a sério no jogo e marcar diferença no resultado) viu-se como está, por fim, a voltar à tona do relvado o talento de João Félix para jogar o seu futebol (durante demasiado tempo afundado nas profundezas da "simeonização" do jogo e suas obrigações de recuar, fechar, defender, pressionar, ufff... fico cansado só de escrever e pensar como será fazer isto tudo).
Agora é o "gato Félix" e a bola como um novelo de lã com quem pode brincar seriamente através da sua técnica e triangulação com direito a liberdade para atacar, soltar-se, fintar, desmarca-se, rematar... e nada disto me cansou escrever. Fez-me, até, vendo-o jogar, sentir uma sensação de leveza futebolística.
Já sei que chegarão jogos contra outro tipo de adversários que irão exigir muitos pedaços táticos do "jogo de Simeone" sem bola. É natural. E Félix, acredito, estará disponível para os fazer (sem para isso o atarem com uma corda em campo).
O futebol é assim mesmo mas acho sempre melhor quando se começa pela essência dos jogadores e só no momento seguinte (e imediato) se olha para as obrigações do jogo.
Os Sub-19 e todas as seleções em 4x3x3
Interessante seguir os jogos das diferentes seleções jovens portuguesas. Dos sub-17, sub-18, sub-19, sub-20 e sub-21, todos jogaram em 4x3x3 com apenas um pivô (meio-campo em "1x2"). Só os sub-21 fizeram o 4x4x2 losango na segunda parte. Em nenhuma, nem sombra da estruturas de defesa a 3 (3x4x3, três defesas ou três centrais) da seleção principal.
A que teve jogos mais importantes, porque valia (e carimbou) o apuramento para o seu Euro, foi a boa seleção sub-19 de Joaquim Milheiro.
Partindo dum nº6 físico e com técnica como Essugo, solta depois interiores com jogo profundo: Mateus Fernandes (mais pelo passe), João Neves (pela condução/visão) ou Gustavo Sá (que gostava de ver num nível competitivo superior) num sistema que mantém sempre alas abertos além da subida dos laterais (Gonçalo Esteves precisa de novo impulso na careia).
Foi porém, quando tornou as alas assimétricas e, em vez de extremos natos como Diego Moreira e Carlos Borges (habilidoso já no City), meteu Hugo Félix a jogar de fora para dentro quase como segundo avançado "10", que marcou a diferença com desmarcação e remate, atrás de Chermiti, aqui talvez demasiado posicional a nº9 sem cair em largura como faz bem. Uma bela equipa para seguir na fase final no Euro Sub-19.
Modelos
Sub-21: Pedro Neto e as alas
Gosto mais de ver os sub-21 em 4x3x3 do que em 4x4x2 losango porque abre melhor o jogo (aproveita todo o campo na largura) em vez do jogo interior que o losango (que custa por vezes a abrir) provoca, embora seja taticamente muito rico poder/saber jogar nos dois sistemas e Rui Jorge aproveitou o particular na Roménia para isso. Talvez para me provocar mais a opinião, foi ver Pedro Neto a regressar em velocidade, finta em progressão e remate/golo desde a esquerda. Explosivo, craque com nível de onze principal.
Sub-20: qualidade indefinida
Não apurada para o Mundial, a seleção sub-20, onde Bino faz muitas experiências, é a que vive fase de maior incerteza na definição do grupo (alguns sub-19 podiam estar aqui). Fez um jogo posicionalmente certo mas sem dinâmica contra a Roménia. Renato Veiga é um central canhoto personalizado que tem de aumentar rotação. Diogo Abreu é um nº8 que mete a bola onde quer, embora lhe custe também mudar de velocidade. Pedro Santos entrou muito bem no jogo, como "enganche" com o ataque. Nazinho está a crescer atleticamente como lateral e Rodrigo Gomes joga em tantas equipas e escalões (clube e seleção) que já nem sei que referência devo ter para avaliar a sua evolução.
Sub-17: primeiros sinais
Na luta pelo apuramento para o seu Euro, a seleção sub-17 de Filipe já tem jogadores precocemente adultos. Desde o nº6, Martim Ferreira, assumindo em organização e saída para o jogo, ao ponta-de-lança Nuno Patrício, que revela cultura de movimentos (e remata bem). Bem o canhoto João Simões a interior-esquerdo mas gostei de ver Gil Martins a jogar por dentro (conta a Polónia), quase segundo avançado, após o primeiro jogo, (Eslováquia) na ala. A maturidade da formação destes talentos é o próximo passo.