A JOGAR FORA - Um artigo de opinião de Jaime Cancella de Abreu.
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1 Entre presidências da Liga e da FPF, Fernando Gomes ocupa os poderes maiores do futebol português há 13 anos; Pedro Proença, por seu lado, tomou assento na cadeira mais importante da Liga em 2015 e, diz-se por aí à boca cheia, ambiciona dar o salto para a FPF nas eleições de 2024.
Os dois somam 21 anos - não é coisa pouca - à frente dos destinos do nosso futebol. Pensem comigo: o ambiente geral do futebol português é saudável?
A arbitragem vai bem e recomenda-se? A disciplina é célere, transparente e igualitária? Na esmagadora maioria dos estádios, as condições de acesso, segurança e o tratamento dado aos adeptos são conformes ao respeito devido a quem paga bilhete? O número de faltas, o tempo útil, a média de golos e espectadores são motivo do nosso orgulho? Algum destes responsáveis veio dar a cara perante casos da gravidade daqueles a que assistimos nos últimos anos?
São perguntas de resposta tão fácil e tão simples que sou capaz de apostar que para todas elas o "não" está na ponta da língua do leitor.
2 Dou voz à imensa maioria silenciosa de benfiquistas que tem dificuldade em compreender o apoio dado pelo clube à reeleição de Pedro Proença - tal e qual teríamos dificuldade em entender se se tratasse de uma reeleição de Fernando Gomes. Defendo que o Benfica só pode apoiar um candidato, qualquer que ele seja, se tiver previamente garantido uma lista calendarizada de medidas que imponham a decência, a transparência e a verdade desportiva ao nosso futebol. Se, como suponho e desejo, a decisão tiver sido tomada de acordo com os superiores interesses do clube, Rui Costa deve explicá-la o mais rapidamente possível - como, aliás, tem exemplarmente feito em relação a alguns outros assuntos da sua presidência.
3 Com um só clube - o campeão - a entrar diretamente na fase de grupos da Champions e os prémios de participação da UEFA a quase duplicarem, as pressões, as tentativas de condicionamento e coação, quem sabe a batota, arriscam subir em 2023/24 para níveis ainda piores do que os observados no nosso passado recente. Temo, portanto, o pior. E o Benfica, ao contrário do que tem vindo a fazer, não pode ter medo de usar a voz - grossa - da sua grandeza para exigir o justo e regular funcionamento das competições. Direi mesmo que tem essa responsabilidade e essa obrigação: milhões de adeptos que, como eu, rejeitam ganhar com favores, não aceitam que o clube se mantenha mudo quando desses favores outros continuadamente vão beneficiando.
4 Comparar as dispensáveis provocações de Neres aos ofensivos cânticos de Otávio e companhia é uma brincadeira só possível num país onde o desaforo e a má criação andam demasiadas vezes de mãos dadas com a impunidade.