PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - A ideia inicial visava criar uma dinâmica original: Taremi, a partir da faixa esquerda, estilo avançado de faixa. Entre atacar a profundidade ou associar-se mais em jogo interior, a ideia, na prática, fez dele "meio jogador" no sentido de ficar entre as duas funções sem conseguir ser completo em qualquer uma.
O FC Porto é, nesta fase, uma equipa que se expressa melhor pelo jogo interior, desde o guarda-costas Uribe, as subidas de Vitinha e a pequena sociedade de passe-remate entre Fábio Vieira e Otávio. Um quadrado de futebol apoiado por dentro que encontrou uma dupla leonina com sentido de marcação perfeito a "encaixar". Foi a razão para Ugarte (que fica mais perto/junto da defesa a 3) jogar em vez de Palhinha (que salta mais a pressionar) perto de Matheus Nunes (o melhor, físico-tecnicamente rotativo, a sair com a bola em posse).
2 - Amorim sabia que, tendo obrigatoriamente de baixar o bloco na maior do tempo perante o volume ofensivo portista, só tinha uma hipótese para atacar no jogo: qualidade e precisão no passe de transição defesa-ataque desde zonas recuadas (para rapidamente lançar, esticando, o contra-ataque). Fez dois golos com essa raiz a que ligou um melhor "jogo exterior", no qual Sarabia ocupou a faixa direita aberto na linha e Matheus Reis subia libertando Nuno Santos para a velocidade vagabunda faixa-centro. Quando, porém, passou a errar passes nessa transição, não soube alternar no passe longo e permitiu que a pressão portista lhe caísse em cima.
O perfume da pausa só se sentia quando a bola passava por Fábio Vieira ou Sarabia (até Vitinha parecia ligado à corrente elétrica).
3 - Em inferioridade numérica, sem Coates, o Sporting fechou a zona central (5x3x1) e, recuando o bloco, deu os metros que permitiram o embalar desde trás pelas faixas dos ataques portistas (por isso, as subidas dos laterais João Mário e Zaidu, reforçados com extremos velocistas, Galeno, Chico Conceição e até Pepê).
O abrir mais dos espaços nas alas não tinha, porém, de ser só desses habitantes naturais. Quem surgisse lá com maior visão e amplitude de passe podia marcar a diferença. Foi o que fez Fábio Vieira. Surgiu, fugindo do centro, e meteu um centro preciso para a cabeça de Taremi (agora na sua casa central). Era impossível as coberturas leoninas chegarem a todo o lado.
O Sporting só jogou o seu jogo (inteiro) na primeira parte. Na segunda, enjaulado junto à área, limitou-se a ter de não deixar jogar (meio jogo) o jogo do FC Porto. Um exercício de resistência em 30 metros que lhe permitiu sair vivo (2-2, com um último voo de Adán).
Estas duas equipas mereciam o jogo completo que se viu na primeira parte. Em rigor, o grande clássico competitivamente puro só durou 45 minutos. O epitáfio pós-jogo desenhou a paisagem duma batalha de descontrolo emocional.
Pizzi, o gregário perdido
Depois da revolta e mudança de regime, Pizzi abandonou o Benfica, rumo à Turquia, ao Basaksehir. É uma partida que deixa uma sensação incómoda. Mesmo com a natural erosão do tempo, sem o mesmo poder de influência no onze, não vejo quem faça o que ele foi capaz de produzir (nas melhores épocas) nem o que ainda sabe dar, a nível de raça técnica, visão e finalização (ainda nesta época). Não sei o que pode estar escondido nesta saída em termos de balneário. Sei que, em termos de futebol, é difícil encontrar um jogador de tanta qualidade que esteja sempre disposto a contribuir com tanta paixão para o jogo coletivo.
A reconstrução balneário-relvado, grupo-jogo, do Benfica, necessita de criar novas referências indiscutíveis. De liderança e qualidade. São processos que emergem naturalmente do grupo e que nunca podem ter como alvo um treinador. Quando, nesses casos, a polémica ganha ao jogo, a equipa perde antes de entrar em campo (porque o ressentimento come a energia). Ao pisar a relva, termina a discussão, inclusive com protagonistas a quem se dá e tira a razão na mesma frase.
Pizzi marcou um ciclo na Luz. E como acredito que ainda tem dentro de si o "gregário de luxo" que sempre foi, espero que o reencontre nos relvados turcos. Sempre ativo, sempre importante.