HÁ BOLA EM MARTE - Opinião de Gil Nunes
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Proteção anti-sísmica
Se, para os grandes jogadores, a liga portuguesa é um voo de escala, a melhor estratégia é mesmo criar defesas para que não haja mudanças no mercado de inverno. Até porque, com as inevitáveis tempestades que são as lesões e os castigos, nada melhor do que evitar que um sismo derrube todo o edifício.
Planeamento e trunfo na antecipação. Se jogador titular sai então a dinâmica da equipa tem de sofrer ajustes; se jogador titular sai então outro tem de ocupar a sua vaga, interrompendo um processo de laboratório que o tornaria mais sólido no futuro.
O FC Porto foi a equipa que melhor lidou com o mercado de inverno. Ajustes pontuais tendo em conta objetivos de longo-prazo. Contratar em bruto (Luan Brito) para lapidar e colocar na equipa no tempo certo. Se Rui Costa confiou em demasia no espírito de compromisso de Enzo - o argentino mandou o Benfica às urtigas - o Sporting tem no hábil discurso do seu treinador um capital essencial: porque metade da exibição do Esgaio é mérito dos adeptos. Objetivo: limpar o ruído e potenciar um elemento de grande qualidade.
Matheus Uribe intocável
Num jogo frente ao Marítimo marcado por uma expulsão injusta de Bernardo Folha - se o primeiro amarelo é exagerado, o segundo é absurdo -, impunha-se um grande Uribe para segurar o miolo e garantir qualidade na dinâmica ofensiva da equipa. E ele apareceu: aumento dos níveis de intensidade na segunda parte (entrada de Evanilson ajudou) e um passe longo inteligente que provocou o avanço de João Mário e zona de tiro para Wendell inaugurar o marcador. Numa primeira parte em que o FC Porto retraiu a intensidade também por culpa de um universo de faltas e faltinhas criado por Fábio Veríssimo, foi a voz de comando de Uribe que evitou males maiores.
Youssef Chermiti em grande
Com renovação contratual à vista, tem o treinador certo para desenvolver todo o seu potencial e render de forma regular. Chermiti tem qualidade técnica, capacidade para segurar a bola e distribuir em conformidade; e ainda velocidade para explorar a profundidade. A sua titularidade frente ao Braga não aconteceu por acaso e a sua qualidade mostrou-se nos detalhes: frieza no passe que deu o segundo golo e, acima de tudo, arrastamento dos defesas para proporcionar espaço de tiro ao esquerdino Edwards (que por conseguinte tendeu para dentro e finalizou de forma fácil). Depois de bons indicadores apresentados diante do Benfica, Chermiti mostrou credenciais assinaláveis.
Adrián Butzke: nas asas de Gaitán
No universo de um Paços de Ferreira que se tem apresentado mais sólido desde o regresso de César Peixoto e que tem em Gaitán o seu ponto de esperança, há jogadores que vão mostrando progresso assinalável. Desde logo o avançado Butzke, que abriu o marcador frente ao Gil Vicente na sequência de um excelente cabeceamento sob pressão. Frente ao Casa Pia, jornadas antes, marcou golo muito semelhante, mostrando muita destreza ao nível do jogo aéreo. Jogador em desenvolvimento tático, não é um dos destaques da equipa mas o seu faro de golo pode ser muito útil frente a equipas de menor dimensão. Onde se conquistam pontos determinantes.
A má decisão de Enzo
Sair para o Chelsea, que está a meio da tabela e com fracas perspetivas de Liga dos Campeões para 2023/2024, não parece nada inteligente. Com várias opções no final da temporada e sem perder um cêntimo, a sofreguidão de Enzo foi tal que a única coisa que se pode fazer é dar razão a Rui Costa: no Benfica nunca mais.