HÁ BOLA EM MARTE - Um artigo de opinião de Gil Nunes.
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Tem um discurso muito honesto mas há que saber gerir o que se diz. Porque Schmidt tem razão em tudo: é normal perder frente ao Braga.
Também não vem nenhum mal ao mundo se o Benfica for eliminado na primeira ronda da Taça pelo Caldas.
E é verdade que a equipa precisa mesmo de Enzo para ser campeã, mesmo que o melhor jovem do Mundial sempre tenha visto os encarnados como um voo de escala para outro destino.
A questão é que os maus momentos são uma dádiva e compete ao técnico adaptar-se à realidade e usá-la em seu favor. O Benfica que se apresentou frente ao Portimonense reflete a imagem do seu técnico: racional na penumbra e cirúrgico. Nunca aquela equipa grande ferida que perdeu por três na ronda anterior e agora tem de se vingar.
Num Benfica que gera dúvidas em torno das suas segundas linhas, Schmidt fala e encarna dois personagens: o impecável senhor da farmácia, que avia a receita e explica os procedimentos vezes sem conta; e o talentoso músico estrangeiro, que se adapta mas desafina ligeiramente quando lhe põem um cavaquinho português nas mãos.
4 Draxler: não chega
Vê-se no requintado toque de bola que a qualidade está lá mas, valha a verdade, trata-se de um jogador campeão do Mundo pela seleção da Alemanha e com obrigação de fazer mais e melhor. Draxler, nesta altura, devia ser titular indiscutível e não o é. Frente ao Portimonense, continuou a mostrar os seus salpicos de qualidade, atuando entre a faixa esquerda e o meio e efetivando a circulação dentro de um quadro de quem pretende mostrar serviços mínimos. Desapareceu na segunda metade e, do banco, viu João Neves demonstrar um manancial de qualidade (sobretudo ao nível técnico) que dá razão a quem o promoveu à equipa principal.
8 Uros Racic: a peça que faltava
O médio sérvio foi um dos melhores em campo nos últimos jogos e a sua introdução na equipa deu outra robustez ao miolo bracarense. Em dupla com Al Musrati provocou benefícios indiretos, desde logo a maior liberdade para André Horta subir no terreno, unir as linhas e desequilibrar em conformidade. A nível individual, a qualidade de Racic é evidente: soma recuperações de bola em zona alta, é eficaz nos duelos físicos e apresenta visão para construir com inteligência e critério. Há boas notícias para o Braga: mesmo com mais um homem no miolo e teoricamente menos um na linha da frente, a dinâmica ofensiva continua a gerar muitos golos.
8 Ivan Jaime: outros voos
É um jogador diferenciado e, caso consiga manter a regularidade exibicional num cenário de pós-lesão, tem todas as condições para sair para uma equipa mais ambiciosa: tem qualidade técnica indiscutível (leia-se com ambos os pés), presença nas linhas de tiro, versatilidade para atuar ora só por dentro, ora a partir da faixa, e também aqueles detalhes que marcam um jogador superior: como aconteceu no segundo golo frente ao Vizela, atacando uma zona de finalização um segundo antes de todos os outros. Já em Chaves, da esquerda para dentro, afinara a pontaria e marcara um golaço. Com apenas 22 anos, tem condições para evoluir ainda mais.
CR7 e a Seleção
É claro que tudo vai depender do seu rendimento mas a verdade é só uma: a liga da Arábia Saudita não tem a mesma competitividade das ligas europeias. Para a Seleção Nacional vem aí tempestade: convocar CR7 pode ser um problema; tê-lo como suplente ou não o convocar também. Ou Ronaldo aceita o triplo contexto e tudo se resolve; ou não percebe e só há a solução de não o convocar de vez.