PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Uma opinião de José João Torrinha
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Ontem li dois artigos curiosos e que dão que pensar. No primeiro, falava-se do jogo "mais endinheirado" deste fim de semana. Era sobre a final da Liga dos Campeões, certo? Errado. O jogo em causa era o Nottingham Forest contra o Huddersfield Town, a disputar-se em Wembley e que vai decidir qual dos dois sobe à Premier League.
O jogo é mais lucrativo para o vencedor do que para aquele que erguer a Champions, porque quem assegurar a subida pode receber qualquer coisa como 214 milhões de euros em receitas nos próximos três anos, as quais podem chegar aos 350 em cinco épocas se o clube evitar a despromoção. No artigo, lê-se que o clube que sobe assegura desde logo 117 milhões de direitos televisivos pela subida e uma almofada de 94 se vier a descer.
Curiosamente, apesar da distribuição de todo este pecúlio, dizem as estatísticas que a Premier também sofre internamente com a desigualdade, com o adensar do intervalo entre os primeiros e os últimos.
A outra peça lembra-nos que, nas últimas cinco épocas, em quatro houve clubes ingleses na final e que só os deuses do futebol evitaram que este ano lá estivessem duas (sim, essas duas que disputaram a Premier até ao último suspiro), algo que, nos tais cinco anos, já aconteceu por duas outras vezes.
É verdade que já houve outras épocas dominadas por clubes de um só país (inclusive pelos clubes ingleses), mas desta vez é diferente. E qual é a diferença? Dinheiro. O fosso entre a Premier e as outras ligas está cada vez mais fundo. Há quem diga que, com o alargar do fosso, a Champions se pode tornar uma espécie de quarto troféu inglês.
Isto para não falar de que os clubes de países de ligas como Portugal só em sonhos se podem imaginar a disputar a mais apetecível das finais. A verdade é que se chumbou aquela liga europeia que queriam os tubarões, mas na que temos só não se assume no papel que a competição é só para alguns.
Para um adepto do Vitória, às portas de regressar às competições europeias, olhar para esta realidade permite perceber o quão desigual é o mundo do futebol e como um clube que vive uma realidade interna de profunda desigualdade se vai meter noutra realidade em que a lei do mais forte é incomensurável.