PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Um artigo de opinião de José João Torrinha.
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Na passada quinta-feira, pude assistir in loco à tomada de posse dos novos órgãos sociais do Vitória. A cerimónia, que decorreu no recém-inaugurado Teatro Jordão, foi bastante sóbria e singela, sentindo-se no ar as naturais emoções fortes de quem "parte" e de quem "chega."
Dos discursos proferidos por parte dos anteriores e atuais presidentes da Assembleia Geral e da Direção, uma palavra sobressaiu: unidade. Bem sei que esse é um termo que costuma aparecer muito nestas ocasiões, mas foi positivo que todos o tivessem usado de forma vincada.
Falta agora a parte mais difícil: praticar o que se diz. Da parte dos que agora saem, que sejam fator de estabilidade e ajudem os seus sucessores no que puderem, e da parte destes últimos, que não passem a vida a usar o passado para justificar as suas ações. E já agora, da parte dos elementos da outra lista que também não venceu, que também eles contribuam para a unidade que todos parecem apregoar.
Quem sou eu para dar conselhos a quem quer que seja, e designadamente ao novo presidente? Apenas mais um sócio, mas daqueles que não abdica de ter opinião e de a partilhar. Um primeiro conselho seria o de evitar a política da "terra queimada": nem tudo o que vai encontrar é bom; mas nem tudo será necessariamente mau.
Por isso, deverá mudar o que tem de mudar, resistindo à tentação das revoluções que levam tudo à frente. E isto tem a ver com políticas, estruturas e pessoas.
Dito isto, não lhe deve faltar a coragem para mudar o que tem impreterivelmente de mudar. Com o passar dos anos, vou-me recordando cada vez mais coisas que o meu pai me dizia, e lembro-me de um episódio que ele me contou sobre uma decisão difícil que, juntamente com outros parceiros, tiveram de tomar. Tomaram-na sabendo que, provavelmente, sacrificariam uma amizade. Mas assim teve de ser, e assim foi.
O segundo conselho é não ser precipitado. Como dizia Saramago, não ter pressa, mas não perder tempo. Boas decisões são decisões informadas e em boa medida tenho a certeza de que os novos dirigentes vão demorar algum tempo até perceberem exatamente a realidade em que foram cair. Serão dias de muita absorção de informação e que devem ser usados para, num segundo momento, começar a tomar as decisões mais importantes. Não queimar etapas.
Finalmente, olear a equipa e pô-la em marcha. Já aqui o disse e não me canso de repetir: num clube de futebol (e em muitas outras estruturas), tão fundamental como a liderança é a equipa. A política dos homens sós e providenciais não costuma dar bons resultados. Olhando para a equipa que António Miguel Cardoso reuniu à sua volta, intui-se que partilha desta opinião. Não pretendeu rodear-se de quem lhe diga o que ele quer ouvir, mas sim de gente com opinião e personalidades próprias. Agora, é aproveitar o que cada um tem de melhor e pôr a máquina a funcionar.