No mundo do futebol, toda a gente aprendeu alguma coisa sobre o ego da maioria dos árbitros e como estes funcionam
APITADELAS - Opinião de Jorge Coroado
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Existirá nos órgãos dirigentes que superintendem o setor, efetivo, definido e concreto propósito de dotar a globalidade da arbitragem de um nível médio elevado, fiável e confiável, capaz de garantir a todos os intervenientes e interessados no futebol confiança na capacidade e competência dos filiados?
Haverá em todos os agentes da modalidade, nomeadamente naqueles que mais de perto lidam com a classe, verdadeiro apreço pela difícil missão, também objetivo interesse na melhoria significativa das qualidades de todos e cada um dos árbitros?
Que grau de sinceridade se pode recolher daqueles que dizem constatarem evolução e, ao primeiro revés, imputam à arbitragem ónus de resultados menos conseguidos? Fará esta gente ideia de como pode ajudar?
Na verdade, sempre que se ouve ou lê alguém, treinador, dirigente ou jogador, elogiar nível da arbitragem e qualidade deste ou daquele árbitro, mais parece uma comédia engraçada que nos faz rir até às lágrimas ou sugere a hipótese de alguém pretender enfileirar na secção da moda que é dizer bem para melhor ficar na foto.
Enfim, talvez a hipocrisia dos que hoje bajulam e amanhã destratam preencha requisitos de conceitos freudianos básicos cuja análise dificilmente concluiria por outro resultado que não fosse o do bacoco interesse e presuntiva cativação de simpatia, como algo além do platónico e não prosaicamente do vamos todos conviver pacificamente.
De facto, no mundo do futebol, toda a gente aprendeu alguma coisa sobre o ego da maioria dos árbitros e como estes funcionam, ficando sempre bem fazê-los passar de "agressores" a vítimas, de algozes a mártires, de reizinhos do gelo a ursinhos de peluche num piscar de olhos.
Arbitrar
Arbitrar não é singela aplicação à prática da aquisição de conhecimentos teóricos decalcados de um livrinho com duas centenas de páginas. Arbitrar vai muito para além da capacidade em decorar as leis e eventuais derivações das mesmas. É, sobretudo, compreender dinâmica do jogo, ter capacidade para percecionar, eventualmente antecipar, reações adversas protagonizadas por indivíduos altamente concentrados. Mais importante ainda, é absolutamente crítico saber como funciona a mecânica do corpo humano, que este não é objeto estático, jamais esquecendo equilíbrios desequilíbrios.
Pressões
Conveniente e ciclicamente, surgem insinuações de pressões sobre os árbitros. Hoje, admita-se, bem menores que em passado não distante. Chegar a um velhinho campo, já inexistente, impunha passar por uma azinhaga. Em dia de jogo decisivo, sobre o muro que ladeada a entrada da ruela, fora colocado um caixão encimado por frase eloquente: "igual a este temos mais dois". Um dos fiscais linha logo reagiu: "tamos f....". Na cabina, aquando de receção da documentação, foi dito ao dirigente: "o sobretudo de quatro tábuas lá em baixo é a sua medida, parabéns!" O pobre homem ia morrendo!