No FC Porto, não se deitam foguetes a más horas que perturbem o descanso do que não está feito
VELUDO AZUL - Opinião de Miguel Guedes
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Talvez tenha sido o balde de água gelada que o Gil Vicente serviu no Dragão a retemperar as forças de cada um dos jogadores que entraram em Alvalade para ganhar, com inteira justiça e numa manifestação de superioridade, a 1ª mão das meias finais da Taça de Portugal.
A resposta física e mental da equipa, após perder um "match-point" na Liga ao não conseguir vencer a equipa de Barcelos (onde somaria mais dois pontos à distância que tinha para o seu principal rival), foi absolutamente reveladora do estado de espírito e da confiança que, atualmente, a equipa tem e exterioriza.
Fica a ideia de que se o FC Porto não conseguiu vencer o Gil Vicente, foi por que tal de deveu à incapacidade física coletiva após a exigência do "play-off" da Liga Europa com a Lázio (bem notória na passada de alguns jogadores), de alguns equívocos e riscos assumidos na constituição da equipa fruto das muitas ausências, da lassidão da primeira parte quando o adversário ficou precocemente reduzido a 10, da manifesta falta de sorte da segunda metade com variadíssimas oportunidades por concretizar e, obviamente, da boa valia dos gilistas, a atravessarem a melhor fase da época, com excelente futebol e a fazerem História, à sua medida.
A eliminatória da Taça continua em aberto. No dia a dia azul e branco, não se deitam foguetes a más horas que perturbem o descanso do que não está feito. Venha então o "xeque-mate". Em abril, novamente no Dragão, o FC Porto terá hipótese de fazer na Taça aquilo que não conseguiu fazer ao Sporting quando o recebeu para a Liga com a hipótese nas mãos de o deixar a 9 pontos e encomendar faixas. Perdido esse "xeque-mate" e com a Liga relançada, reforçou na Taça a convicção da resposta: é a melhor equipa.
Algo que o jogo de Alvalade também pode ter servido para clarificar é que não há um mundo a preto e branco que se pinta a esverdeado ou a outras meias tintas. O mundo a cores, ensina-nos que não há bons nem maus absolutos, que não há superioridade moral nos comportamentos e na História e que, por mais que alguns queiram colar o FC Porto ou a cidade do Porto a uma cultura de violência, serão sempre símbolos maiores de uma cultura de resistência e, por vezes, espelho da revolta face a comportamentos iguais ou piores.
Armários sem esqueletos
As bruxas não moram em Paços nem se escondem dentro de móveis ou armários como esqueletos. Porque se assim fosse, a tarefa do FC Porto na capital do móvel seria ainda mais exigente no fim da tarde deste domingo.
A última derrota que serviu como rampa de lançamento para a série quase recordista de 52 jogos sem perder aconteceu, precisamente, no horrível jogo em que o FC Porto saiu derrotado por 3-2, em outubro de 2020, na Mata Real. Sérgio Conceição assume-o como o seu pior jogo como treinador do FC Porto. 41 vitórias e 11 empates depois, perder pontos não é opção, sobretudo após a vitória leonina de ontem.
Frente a um Paços de Ferreira que, nos últimos 10 jogos, só perdeu com Benfica e Braga (na Luz e na Pedreira), exige-se comprometimento total.