VELUDO AZUL - Um artigo de opinião de Miguel Guedes.
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Superioridade incontestável do Dragão na Luz, mais um episódio para o drama histórico do Benfica, mais um capítulo para a epopeia cíclica do FC Porto.
Não é só pelos títulos que lá ganhámos, com ou sem rega ou apagão. O Benfica continua em bela posição para ser campeão este ano e tem sido, até agora, a equipa mais regular no futebol jogado.
Mas mesmo os adeptos benfiquistas não percebem o porquê da equipa se apagar e encolher na Luz frente ao FC Porto. É o dragão que deita assombroso fogo ou a águia que se automutila? É quase um "case study".
Para o FC Porto, a Luz é o salão de festas que Alvalade ou a Pedreira estão longe de ser. Os números não deixam mentem. Nos últimos 12 jogos entre FC Porto e Benfica, ganhámos oito, empatámos dois e perdemos dois. Destes 12, quatro foram na Luz, onde vencemos três e empatámos um. Comparativamente com Sporting, a diferença faz-se sentir: na última dúzia de jogos, ganhámos sete, empatámos quatro e perdemos um. Em Alvalade, jogaram-se cinco partidas, tendo o FC Porto vencido três e empatado duas vezes. Se a comparação for feita com o Braga, a diferença é já abissal. A última vitória do FC Porto na Pedreira aconteceu em Março de 2019, culminando série de cinco triunfos consecutivos. Em Braga, jogaram-se sete dos últimos 12 jogos: quatro empates e três derrotas para o FC Porto. Globalmente, nos últimos 12 jogos com o Braga, o FC Porto soma três vitórias, quatro empates e cinco derrotas. Nos confrontos diretos com o FC Porto, o Benfica é o quarto grande.
Um clássico é sempre imprevisível e costuma calar a voz dos fanfarrões. Para quem pensava que a superioridade benfiquista iria ser consumada numa vitória por números largos, fácil e esmagadora, esqueceram-se que só ganharam no Dragão porque se viram a jogar contra 10. No clássico, o jogo começou a soletrar a palavra nervosismo logo ao primeiro minuto. O FC Porto tinha de ganhar, foi pressionante, criou mais oportunidades e foi penalizado por más decisões da equipa de arbitragem e VAR: um penálti sobre Taremi, uma expulsão a Otamendi, um golo mal anulado a Manafá. Dando de barato que um "frame" é um "frame" e que tudo muda pela escolha da mão humana, seis cm separaram Galeno de um golo legal. Teria sido um resultado esmagador. Assim sendo, é "apenas" mais uma vitória na Luz que nos coloca a sete pontos. Não deixa de ser irónico e demonstrativo da nossa falta de regularidade. O confronto direto não decide campeonatos nesta rivalidade singular.