PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Um artigo de opinião de José João Torrinha.
Corpo do artigo
Há muitos anos tive o privilégio de, juntamente com o meu pai e a convite de um dirigente, acompanhar a equipa principal do Vitória, no autocarro do clube, em deslocação às Antas para defrontar o FC Porto.
Para uma criança como eu era, aquele dia foi inesquecível e muitas das coisas que vi nunca mais abandonaram a minha memória.
O jogo terminou empatado depois de o Vitória recuperar de desvantagem no marcador e ficou marcado por uma arbitragem que a todos os vitorianos pareceu altamente tendenciosa. Ainda assim, a equipa resistiu como pôde e aguentou o empate. A última memória que guardo desse dia é a da chegada ao estádio, que então se chamava Municipal, já noite. À espera do autocarro, umas dezenas de adeptos receberam a equipa de forma efusiva.
O Vitória só tinha conquistado um ponto, pelo que não havia, objetivamente, grandes motivos para celebrações. Mas aqueles adeptos reconheceram o mérito de quem dá tudo o que tem, independentemente de, no final, se ganhar, empatar ou perder.
Na passada quarta-feira ninguém pode dizer que a equipa não deu tudo o que tinha. Aliás, contrariando todas as expectativas, entre um emblema que vinha de duas goleadas, uma delas contra o líder invicto, e outro que está sem ganhar desde que se interrompeu o campeonato, foi este último que esteve muito melhor durante quase todo o jogo.
Ou seja, em termos de vontade, mentalidade e capacidade de enfrentar grandes desafios, esta equipa mostrou, mais uma vez, uma inesperada força. E isso é muito importante. Porque essa é a semente sem a qual nenhum coletivo pode pensar sequer em ter sucesso.
Claro está que depois há o resto. Aqueles lances e minutos em que alguns erros deitaram a perder tudo o que até aí se tinha construído. Erros em que a experiência (ou falta dela, melhor dizendo) nos atraiçoou e que nos atiraram para fora de uma competição onde merecíamos continuar. E com eles uma enorme frustração que tocou fundo no coração de todo e qualquer vitoriano.
Mas é nessas alturas que a frustração não pode toldar a nossa razão. Porque seguramente que ninguém estaria mais frustrado do que aqueles homens que, noite dentro, chegaram de autocarro a Guimarães. O que eles precisavam naquela altura era de uma receção igual aquela que comecei por falar e não de recriminações ou de energia negativa.
Pela minha parte (e por muitos mais, tenho a certeza), só lhes quero mesmo dizer: força, rapazes!